DELIMITAÇÃO DA PROVÍNCIA ALOCTONE DA FASE THIN-SKINNED
DE DEFORMAÇÃO NA BORDA OESTE DA BACIA DO SÃO
FRANCISCO
Coelho, J.C.C.1,2; Martins-Neto, M.A.2; Marinho, M.S. 2
1- Petróleo Brasileiro S/A – Petrobrás, Brasil. julio.cesar@petrobras.com.br
2- Departamento de Geologia, Escola de Minas, Universidade Federal
de Ouro Preto, Ouro Preto-MG, Brasil. marcelo@nupetro.com.br
ABSTRACT
The structural framework of the compressional tectonics
of the west margin of the São Francisco Basin, obtained by
seismic and outcrop mapping, allowed the recognition of an allochthonous
province. This unit is probably part of the Bambuí sequence
structurally involved in the thin-skinned belt of the Brasília
fold belt. The structural style of the thin-skinned belt is characterized
by imbricate fans over a detachment surface located on the base of
the Bambuí sequence. The autochthonous domain, to the west
(outcropping in the Cristalina high), is mostly composed by the Canastra/Paranoá
sequence. This unit presents low strain magnitudes and higher metamorphic
grades in comparison with the allochthonous rocks. The eastern limit
of the allochthonous province is defined by the São Domingos
fault front. The autochthonous Bambuí to the east of the São
Domingos front is characterized by no metamorphism and very low strain
magnitudes. The allochthonous-autochthonous limit can also be identified
on satellite image.
Palavras-chave: Bacia do São Francisco, tectônica,
domínio alóctone
INTRODUÇÃO
A interpretação sísmica, amarrada com o poço
1-RF-1-MG em associação com interpretação
de imagem de satélite e dados de campo na borda oeste da Bacia
do São Francisco (Fig. 1) permitiu a caracterização
do alóctone estrutural da fase thin-skinned de deformação
da Faixa Brasília nos domínios transicionais com o Cráton
do São Francisco, individualizando-o em relação
às unidades estratigráficas e aos estilos estruturais
dos domínios onde se encaixa.
A unidade estratigráfica envolvida nesta fase de deformação
pertence provavelmente à Seqüência Bambuí
(Neoproterozóico) reconhecida como um ciclo de antepaís
(foreland) (Martins-Neto et al., 2001). Tal seqüência encontra-se
encaixada estruturalmente a oeste pela fase deformacional com embasamento
envolvido, onde falhas de empurrão chegam à superfície
trazendo cunhas de unidades mais antigas, como acontece nas regiões
de Paracatu e Cristalina. A leste, a delimitação fica
por conta da front reconhecido como Falha de São Domingos,
a qual representa o fim da influência do empurrão e que,
a partir dela, a unidade envolvida (Bambuí) encontra-se estruturalmente
autóctone, onde são reconhecidos apenas antiformes suaves
e falhas de pequeno rejeito, provenientes de reativações
de falhas mais antigas. A sua delimitação basal fica
por conta de um detachment que coincide com a base da Seqüência
Bambui e o separa da Seqüência Canastra/Paranoá
abaixo.
Quanto ao grau de deformação o alóctone distingui-se
das encaixantes por apresentar-se bastante dobrado e falhado, porém
sem metamorfismo e com estruturas sedimentares preservadas e ausência
de clivagem. As unidades limítrofes a oeste, região
de Cristalina/GO encontram-se pouco deformadas, porém metamorfizadas.
Figura 1. Mapa de localização da área estudada
(retângulo)
Figura 2. Seção sísmica em tempo, do domo de
Cristalina/GO, a oeste, em direção ao centro da bacia,
mostrando os horizontes estratigráficos mapeados, bem como
os diferentes estilos estruturais. Observar o detachment aflorando
próximo à extremidade W da linha e a estruturação
thin-skinned com seus leques imbricados do alóctone
LIMITES DO ALÓCTONE
Limite oeste
O limite oeste do alóctone é representado na porção
norte da área estudada (região de Cristalina/GO) pelo
afloramento do detachment e na porção sul (região
de Paracatú/MG) por por falhas de empurrão da fase embasamento-envolvido.
Nesta porção identificamos a presença de rochas
pertencentes à Seqüência Canastra/Paranoá,
além de rochas do Grupo Vazante. Ressalta-se que estudos visando
o posicionamento estratigráfico desta última unidade
encontram-se em andamento. Na sísmica pode-se mapear este limite
através do detachment e do característico leque imbricado
de falha (Fig. 2).Neste caso pode-se ainda confirmar a presença
do limite através da identificação do detachment
no campo (ponto 03 – Fig. 1).As rochas a oeste do limite do alóctone
encontram-se completamente deformadas e metamorfisadas (Fig. 3).
Limite leste
O limite leste é caracterizado pela última falha do
domínio estrutural thin-skinned conhecida e mapeada como Falha
de São Domingos. A leste desta falha os refletores sísmicos
encontram-se sub-horizontais podendo-se observar apenas alguns antiformes
suaves e falhas de pequeno rejeito resultados de reativações
de eventos anteriores (Fig. 4).
Figura 3. Exemplo de rocha deformada e metamorfisada a oeste do limite
do alóctone.
Figura 4. Sísmica mostrando a falha de São Domingos,
limite leste do alóctone. Notar contraste de deformação
da seção alóctone a esquerda (oeste) e seção
autóctone à direita (leste)
Esta unidade, pertencente à Seqüência Bambuí,
é estruturalmente autóctone e as suas rochas preservam
as propriedades sedimentares praticamente intactas (Fig. 5). A identificação
desta unidade como pertencente à Seqüência Bambuí
foi amarrada aos dados do poço 1-RF-1-MG, com a sísmica
e com os dados de campo.
Figura 5. Exemplo de afloramento com as rochas do autóctone,
sem deformação tectônica.
O ALÓCTONE
Esta unidade distingui-se de suas encaixantes por apresentar um estilo
estrutural de leques imbricados, referentes à fase thin-skinned
de deformação, tendo em sua base uma superfície
de detachment que coincide com a base da Seqüência Bambuí
e seu conseqüente limite com a Seqüência Canastra/Paranoá
(Fig. 2). Os seus limites, portanto, estão ligados aos limites
de influência da tectônica thin-skinned (Fig. 2 e Fig.
4). As rochas dentro destes limites encontram-se completamente dobradas
e falhadas conservando, entretanto, as estruturas sedimentares primárias
e mostrando-se pouco metamorfisadas (Fig. 6). Não apresentam
clivagem de foliação, com exceção das
imediações dos planos de falha, e lineações
observadas são todas referentes a um único evento tectônico.
Apresenta vergência para leste, em direção ao
centro da bacia. Os limites a leste e a oeste do alóctone,
descritos anteriormente, podem ser reconhecidos, de uma forma global,
também na imagem de satélite (Fig. 7). Ressalta-se que
estes limites ainda encontram-se em fase de mapeamento, sendo portanto
preliminares os limites apresentados na figura 7.
Figura 6. Exemplo de afloramento com as rochas do alóctone,
bastante dobrado mas com muito baixo grau de metamorfismo.
Figura 7. Imagem de satélite mostrando os limites preliminares
do domínio alóctone.
AGRADECIMENTOS
À PETROBRAS pela liberação do primeiro autor
para dedicação a projeto de mestrado e pela cessão
da imagem de satélite da área fornecida pelo Geólogo
J. Françolin. Ao CNPq por concessão de Bolsa de Produtividade
em Pesquisa a MAMN, vinculada ao projeto. À ANP pela cessão
dos dados para fins acadêmicos. À Landmark pela cessão
do pacote de softwares para fins acadêmicos. À Ufop e
à Capes pelo aluno bolsista do PET Marcelo Marinho para dedicar-se
a este projeto.
REFERÊNCIAS
Martins-Neto, M.A.; Pedrosa-Soares, A.C.; Lima, S.A.A. 2001. Tectono-sedimentary
evolution of sedimentary basins from Late Paleoproterozoic to Late
Neoproterozoic in the São Francisco craton and Araçuaí
fold belt, eastern Brazil. Sedimentary Geology Spec. Issue – 141-142:
343-37