INDEX
ST3 - 19


OS GRANULITOS BÁSICOS DA PARTE SUL DO BLOCO
ITABUNA-SALVADOR-CURAÇÁ, BAHIA, BRASIL

 

Souza, J.S.; Barbosa, J.S.F.; Menezes Leal, A.B.

 

IGEO/UFBA, Campos Universitário de Ondina , 40.210-340,Salvador-BA, Brasil.

jailma_souza@hotmail.com, johildo@cpgg.ufba.br , angelab@ufba.br

 

ABSTRACT

 

In studies carried out in the southern part of the Itabuna-Salvador-Curaçá Orogen it has been observed enclaves of basic granulites, included in Achaean and Paleoproterozoic granulites tonalitics/trondhjemitics. They form stretched bands parallel to the rock foliation and, by partial melting, may have been the source for the tonalitics/trondhjemitics magmas that act as their country rocks. This research intent to verify if this possibility can be true. Initial petrographic studies have shown that these basic granulites basics are composite mainly for plagioclase, clinopiroxenes e orthopiroxenes, with the remarkable presence of garnet, biotite or hornblend. This has allowed us to separate them in three main groups: garnet-rich, biotite-rich and hornblend-rich basic granulites. Next, mineral chemical research, geochemical modeling and isotopic/geocronological studies will be made in these basic granulites.

 

Palavras chave: Granulitos básicos, crosta oceânica, petrografia, Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá, Bahia

 

 


INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA

Na região sul-sudeste da Bahia, Barbosa & Sabaté (2002, 2004) identificaram a presença de segmentos crustais, de idade arqueana, denominados de Bloco Jequié (BJ) e Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá (BISC) que colidiram durante o paleoproterozoico (2.0-2.1Ga).

O BJ antes da colisão era formado de:

(i) migmatitos heterogêneos contendo faixas de supracrustais (basaltos e andesitos basálticos, cherts, formações ferríferas bandadas, grafititos e kinzigitos) constituindo o seu componente mais antigo com idades em torno de 3,0-2,9Ga; e,

(ii) intrusões múltiplas, graníticas-granodioríticas mais jovens (idades U-Pb de 2,8-2,9Ga, SHRIMP, Alibert & Barbosa 1992) com uma química de baixo e alto Ti (Fornari & Barbosa 1994).

Com relação ao BISC, (Figueiredo 1989, Barbosa 1990) interpretaram que, margem continental ativa e zonas de subducção foram seus ambientes predominantes no Arqueano tendo gerado tonalitos e trondhjemitos (@ 2,6Ga) com inclusões de gabros e/ou basaltos toleíticos, além de rochas supracrustais subordinadas. Corpos granitóides e monzoníticos penetraram quando o BISC estava em construção no arqueano.

Durante a colisão, no paleoproterozoico, em nível crustal correspondente ao Fácies Anfibolito, novos corpos de tonalitos e trondhjemitos se formaram contendo igualmente enclaves de corpos básicos toleiíticos. Com a progressão das deformações e recristalizações, função da colisão continental, tanto as rochas do BJ como as do BISC foram transformadas em granulitos. Os corpos arqueanos e paleoproterozóicos de tonalitos/ trondhjemitos, justamente com seus enclaves de rochas básicas, foram colocados lado a lado através das falhas de empurrão e passaram a ter nas suas paragêneses o ortopiroxênio.

Considerando que os magmas tonalíticos e trondhjemítos podem ser gerados pela fusão parcial de basaltos/gabros toleiticos (Barker & Arth, 1976, Martin, 1994), pode-se formular a hipótese de que os granulitos tonalíticos/trondhjemíticos do BISC foram também formados por magmas provenientes da fusão dos granulitos básicos (basaltos/gabros toleiíticos pretéritos) que ocorrem nos granulitos tonalíticos e trondhjemíticos sob a forma de enclaves.

Este trabalho mostra dados petrográficos preliminares de uma pesquisa que visa testar a hipótese acima.

 

DADOS PETROGRÁFICOS PRELIMINARES

O estudo petrográfico de 30 amostras dos enclaves presentes nos granulitos tonalíticos/ trondhjemíticos tem mostrado a existência de três tipos de granulitos básicos: aqueles portadores de granada, os ricos em biotita e aqueles possuidores de hornblenda (Pinho 1998, 2005).

 

Granulitos básicos com granada

Os granulitos básicos com granada ocorrem predominantemente à leste/nordeste da parte sul do Bloco Itabuna - Salvador - Curaçá. Mostram coloração cinza a cinza escura, granulação fina a média e aspecto homogêneo quando frescos. Quando alterados exibem uma coloração cinza esbranquiçada, permitindo visualizar com clareza sua foliação e/ou bandamento. Apresentam textura fanerítica média granoblástica com cristais anédricos a subédricos, sendo constituídos de 47% de plagioclásio, 12% de clinopiroxênio, 10% de ortopiroxênio, 12% de granada, 13% de quartzo, 2% de k-feldspato e 4% de minerais opacos.

Os plagioclásios são granulares, apresentam extinção ondulante, possuindo geminação albita predominante, embora ocorra subordinadamente a albita-Carlsbad. Alguns cristais são antipertíticos. Em luz plana os cristais de clinopiroxênio são de cor verde rosada e os de ortopiroxênio de cor verde clara, ambos apresentando fraturamento, contatos irregulares entre si e com os demais minerais. As granadas, sob a forma de grãos fraturados, possuem coloração rosa clara mostrando contatos irregulares com os demais minerais. O quartzo exibe extinção ondulante, sendo raros os cristais de k-feldspato. Ambos ocorrem de forma dispersa na rocha. Os minerais opacos são observados sob a forma de inclusões ou intersticiais entre os principais minerais formadores da rocha. 

 

Granulitos básicos com biotita

Os granulitos básicos com biotita estão localizados na parte sul do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá mais próximos da denominada Banda de Ipiaú (Barbosa 1990). Estes granulitos quando inalterados mostram aspecto homogêneo, coloração cinza a cinza escura e granulação fina a média e, semelhantemente aos anteriores, quando alterados apresentam uma coloração cinza esbranquiçada tornando mais visível a presença de foliação/bandamento. Com maior incidência mostra textura fanerítica média, granoblástica, sendo menos abundante a lepidoblastica. Exibem contatos irregulares entre os grãos, embora se encontre, vez ou outra, junções tríplices entre cristais anédricos a subédricos. São formados por 44% de plagioclásio, 21% de clinopiroxênio, 13% de ortopiroxênio, 8% de quartzo, 6 % de biotita e 4% de minerais opacos.

Os plagioclásios são granulares, apresentam extinção ondulante, com fraturamento incipiente em alguns grãos e contatos irregulares entre si e com os outros minerais. Alguns cristais estão geminados, predominantemente segundo a lei albita e, subordinadamente segundo a albita-Carlsbad. Os grãos de piroxênios mostram-se fraturados e com contatos irregulares entre si, com os plagioclásios e com as biotitas. Os clinopiroxênios aparecem em luz plana com a cor verde e os ortopiroxênios destacam-se pela coloração verde mais clara. A biotita ocorre predominantemente na forma de palhetas alongadas, orientadas conforme a foliação ou, pode também ser encontrada sob a forma de cristais dispersos na rocha. Ela exibe coloração castanha avermelhada com pleocroísmo variando do castanho ao marrom claro. Seus contatos com outros minerais, ora são retos ora irregulares. Na sua maioria são consideradas minerais acessórios por apresentar uma baixa média modal. Os cristais de quartzo apresentam fraturamento incipiente, extinção ondulante e contatos irregulares com plagioclásios e piroxênios. Os minerais opacos são encontrados sob a forma de inclusões ou dispersos de forma aleatória entre os minerais principais da rocha.

 

Granulitos básicos com hornblenda

Os granulitos básicos ricos em hornblenda estão mais concentrados na parte sul do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá. Exibem em geral coloração cinza escura, granulação fina a média mostrando um aspecto homogêneo quando inalterados.  Os tipos mais finos situam-se mais a oeste passando para uma granulometria mais grossa à medida que se desloca para leste. Contatos tríplices entre os cristais anédricos a subédricos são verificados vez por outra, embora apresente em geral textura fanerítica fina a média granoblástica e menos abundante a nematoblástica. Estes granulitos básicos são formados por 41% de plagioclásio, 18% de clinopiroxênio, 12% de ortopiroxênio, 16% de hornblenda, 6% de quartzo e 5% de minerais opacos. Os plagioclásios apresentam fraturamento incipiente, extinção ondulante e geminação albita e albita-Carlsbad, sendo a primeira mais comum. Os grãos de clinopiroxênio e ortopiroxênio mostram também fraturamento incipiente, com contatos ora irregulares, ora retos, não somente entre si, mas também com os plagioclásios e com as hornblendas. Estas últimas apresentam contatos irregulares entre si, com plagioclásios e com os piroxênios, mostrando em algumas lâminas uma leve orientação paralela à foliação da rocha. Fracamente orientados em algumas lâminas descritas, os grãos de quartzo, escassos e dispersos no seio dos granulitos básicos, exibem extinção ondulante e contatos interlobados com os demais minerais. Os opacos constituem as fases acessórias e em geral ocorrem como inclusões dentro dos outros minerais, sobretudo nas hornblendas.

  

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos petrográficos preliminares têm mostrado, nos granulitos tonalíticos e trondhjemíticos da parte sul do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá (BISC) a existência de três tipos de enclaves de granulitos básicos: aqueles portadores de biotita, outros portadores de hornblenda, e ainda, outros que contêm granada. Nas amostras até agora coletadas estão sendo realizados trabalhos de petroquímica, química mineral e, sobretudo mobilização geoquímica e estudos isotópicos/ geocronológicos, com o objetivo de verificar se os granulitos tonalíticos e trondhjemíticos em foco foram provenientes da fusão de gabros e/ou basaltos pretéritos. Estes atualmente deformados e granulitizados, juntamente com as suas encaixantes tonalíticas/trondhjemíticas poderiam ter sido os representantes de uma crosta oceânica existente entre o Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá e o Bloco Jequié, antes da colisão paleoproterozoica
que originou os terrenos granulíticos do sul/sudeste da Bahia.

 

REFERÊNCIAS

Alibert C. & Barbosa J.S.F. 1992. Âges U-Pb déterminés à la “SHRIMP” sur des zircons du Complex de
Jequié, Craton du São Francisco, Bahia, Brésil.
In: Réun. Sci. Terre, Toulouse, France, 14:4.

Barbosa J.S.F. 1990. The granulites of the Jequié Complex and Atlantic Mobile Belt, Southern Bahia, Brazil-An expression of Archean Paleoproterozoic Plate Convergence. In: D Vielzeuf , PH Vidal (eds.), France, p. 195-221

Barbosa, J.S.F. & Sabaté, P. 2002. Geological features and the Paleoproterozoic collision of four Archaean crustal segments of the São Francisco Craton, Bahia, Brazil. A synthesis. Anais Acad. Bras. Ciências, 74(2), 343-359.

Barbosa, J.S.F. & Sabaté, P. 2004. Archean and Paleoproterozoic crust of the São Francisco Cráton, Bahia, Brazil: geodynamic features. Precam.  Res., 133: 1-27.

Barker, F. & Arth, J.G. 1976. Generation of trondhjemitic-tonalitic liquids and Archaean bimodal trondhjemite-basalt suites. Geology  4, 596-600.

Figueirêdo M.C.H. 1989. Geochemical evolution of eastern Bahia, Brazil: A probably Early-Proterozoic subduction-related magmatic arc. J. South Amer. Earth Sci., 2(2): 131-145.

Fornari, A. & Barbosa, J.S.F. 1994. Litogeoquimica do batólito enderbítico-charnockítico do Complexo Jequié na região de Laje e Mutuipe, Bahia. Rev. Bras. Geoc. 24(1), 13-21.

Martin, H. 1994. The Archaean grey gneisses and the genesis of the continental crust. In: Condie, K.C. (Ed.). The Archaean Crustal Evolution. Elsevier, Amsterdam, pp. 205-259.

Pinho, I.C.A. 2000. Os Tonalitos/Trondhjemitos das regiões de Ipiaú-Ubaitaba-Ibicaraí-Itabuna, Bahia., Dissertação de Mestrado IGEO/UFBA, Bahia, 193p.

Pinho, I.C.A. 2005. Geologia dos Metatonalitos/ Metatrondhjemitos e Granulitos Básicos das regiões de Camamu-Ubaitaba-Itabuna, Bahia. Tese de Doutorado IGEO/UFBA, Bahia, 156p.