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ST4 - 08


GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA E MODELAGEM TÉRMICA DA BORDA SUL DO CRATON DE SÃO FRANCISCO: TERMOCRONOLOGIA POR
TRAÇOS DE FISSÃO EM APATITA

Hackspacher, P. C.1; Godoy, D. F.2; Ribeiro, L.F.B.3

 

1. DPM/IGCE/UNESP- CP 178, 13506-900, Rio Claro-SP

2. Pós-Graduação em Geologia Regional/IGCE/UNESP, CP 178- 13506-900, Rio Claro-SP

3. NUCLEARGEO- Rua 11, 2527- Rio Claro- SP

 

 

Abstract

The Phanerozoic evolution of the southern border of the São Francisco Craton is reconstructed using thermal modeling through fission track analysis on apatite. Geomorphologic and geological data support an evolution considering heating and cooling histories. Exhumation and denudation is discussed in the Atlantic Platform and correlate to surrounding areas.

Palavras-chaves: Modelagem térmica, traços fissão em apatita

    A borda sul do Craton de São Francisco assim como suas faixas marginais são um exemplo de extensos planaltos soerguidos num comprimento de 1500 – 2000 Km e uma variação da amplitude do relevo entre 500 – 2700m em relação ao nível do mar (Planalto Atlântico). A paisagem é marcada por um relevo montanhoso com compartimentos topograficamente deprimidos, que são produtos da atuação de processos tectônicos relacionados a uma complexa história evolutiva fanerozóica associados a: i) subsidência da Bacia do Paraná com soerguimento associado; ii) reativações tectono-magmáticas; iii) abertura do Atlântico Sul; iv) soerguimento Quaternário. Os processos denudacionais envolvidos foram, por sua vez, responsáveis pela destruição de muitas das feições tectônicas.

Após o processo de aglutinação do continente Gondwana e resfriamento associado tivemos um longo processo de estabilização na borda sul do Craton, o que findou no Triássico (Hackspacher et al. 2004; Ribeiro et al. 2005) com a reativação de alinhamentos como a da falha de Ourofino – Jacutinga, tectônica esta já mencionado por Soares et al. (1996).

No Jurássico e Cretáceo inicia-se um intenso processo tectônico e magmatismo básico e intermediário com fenômenos de ruptura continental em toda a região sudeste. Associado temos a formação inicial da Serra da Serra da Mantiqueira com atuação de tectônica rúptil reativando antigas zonas de cisalhamento segundo a direção Nordeste ao longo da Serra da Mantiqueira (Tello et al. 2003). Datações obtidas pela metodologia por traços de fissão em apatitas forneceram idades e histórias térmicas em torno de 121±7 Ma, este evento sempre aparece registrado nas modelagens térmicas. Interpreta-se que a Serra da Mantiqueira represente o soerguimento marginal de flancos de rift iniciados durante a abertura oceânica (Hackspacher et al. 2004).

O vulcanismo Serra Geral representaria um processo de reativação térmica associado com extensão litosférica. Na Bacia do Paraná temos um contínuo processo de subsidência, gerado pelo peso do material ígneo e uma constante compactação das camadas sedimentares. Segue-se a deposição da Superseqüência Bauru.

O Cretáceo Superior marcou a paisagem com processos de aquecimento entre 80 e 60 Ma em grande parte da região. A elevação das isotermas e intenso soerguimento (Fig. 1A) estariam associadas à atuação de plumas mantélicas causando anomalias térmicas devido à entrada de magma em sub-superfície, relacionadas ao magmatismo alcalino. A Bacia do Paraná sofre intensa subsidência, devido à influência não só do magmatismo básico, mas também do magmatismo alcalino, como os maciços de Ipanema e os diques de Jaboticabal. Na borda da bacia temos os maciços de Poços de Caldas, Arco do Paranaíba, Catalão, Salitre e outros de menor expressão. O alinhamento alcalino de Poços de



 

Figura 1.  A) Paleotemperatura em 90 Ma; B) Paleotemperatura em 40 Ma; C) Denudação total em metros.

Caldas – Cabo Frio, juntamente com a reativação do Arco do Paranaíba e a Flexura de Goiânia estão associados ao soerguimento das bordas da bacia do Paraná. Foi neste período que surgiram os altos estruturais de Piratininga, Ártemis, Assistência e Pau D’Alho, entre outros na bacia (Soares et al., 1996, Godoy, 2005).

Idades em torno de 60Ma, mostram a grande inversão térmica e tectônica, com reativações e soerguimento até o Mioceno associado à denudação (denudação tectônica) Diferenças entre as idades entre os dois contextos  da Serra da Mantiqueira são evidenciadas através de falhamentos normais que seriam responsáveis por dois blocos: a Mantiqueira “alta” e Mantiqueira “baixa”, a primeira com a origem no Cretáceo Inferior e a segunda no Cretáceo Superior (Ribeiro et al. 2004).

Geomorfologicamente, duas superfícies de aplainamento (ou erosivas) nivelam seus cimos a cerca de 900 a 1000 m de altitude, como a superfície Sul – Americana de King (1956) e outra ao redor de 1700 a 2000m,  considerada pelo mesmo autor como resultado da deformação tectônica da superfície (soerguimento).

A figura 1B mostra uma crosta mais fria que a figura 1A, deixando claro um resfriamento entre o Neocretáceo e o Eoceno, processo este associado a fenômenos internos da crosta e associado ao ciclo erosivo Sul-Americano. A superfície Sul-Americana teria sido soerguida e retrabalhada encontrando-se preservada em vários altos topográficos da borda sul do Craton. A tectônica associada pode ser a responsável pela origem da depressão do vale do Paraíba aonde viria a se depositar a Bacia de Taubaté.

No Mioceno a borda do craton sofre um novo soerguimento, provavelmente, relacionado aos episódios da dinâmica Andina (Lima, 1999) sob um regime tectônico transtrativo. No cristalino entre Planalto de Jundiaí e Serra da Mantiqueira, registra–se um soerguimento rápido (esfriamento) sob um regime tectônico transcorrente, com predominância de falhas sinistrais e inversas e raras destrais e normais. Na Bacia de Taubaté ocorreram reativações de falhas e juntas de direção WNW que teriam gerado zonas tramspressionais que modificaram a forma original do Rift Continental do Sudeste do Brasil e foram responsáveis pelo soerguimento da soleira de Queluz. Estes resultados mostram que a partir do Mioceno a reativação de falhas propiciou uma série de soerguimentos localizados (tectônica em blocos) que originaram armadilhas tectônicas e preservaram depósitos aloestratigráficos (unidade Tanque) na região do Planalto de Jundiaí. As paleosuperfícies reconhecidas na Serra da Mantiqueira foram soerguidas e escalonadas nesta época. No Holoceno foram registrados falhamentos inversos e transcorrentes sinistrais afetando depósitos terciários, colúvios.

Outra característica da Serra da Mantiqueira que evidencia soerguimento, provavelmente durante o Quaternário, são os vales suspensos (Saadi, 1993), a presença de lateritas aluminoferruginosas encontradas acima de 1800m e restos de latossolos retrabalhados de vertente no nível topográfico de 1800-1820m, indicando, segundo Modenesi- Gauttieri (2000) resquícios de um manto ferralítico, provavelmente formado sob condições e processos vigentes anteriores à acentuação do soerguimento do planalto de Campos do Jordão, no alto da Serra da Mantiqueira, como registrado por Doranti et al. (2005) no Holoceno.

A figura 1C representa mapa de denudação total entre Cretáceo Inferior e os dias de hoje com valores próximos aos 3 km.

 

REFERÊNCIAS

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Ribeiro, L. F. B.; Hackspacher, P. C; Hadler Neto, J. C.; Ribeiro, M. C. S.; Iunes, P. J.; Guedes, S. 2004 Tertiary Brittle Tectonics Associated with the Terciary Continental Rift of Southeaster Brasil: Fission Track Constrainsts. 10th International Simposium of Fission Track Dating and Thermocronology. Anais publicado em meio digital.

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