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ST8 - 05


ANÁLISE EVOLUTIVA DOS DADOS HIDROQUÍMICOS E HIDRODINÂMICOS DOS POÇOS TUBULARES LOCADOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO NA PORÇÃO INSERIDA NO ESTADO DA BAHIA

Pires, A.S.; Luz, J.A.G.; Bastos Leal, L.R.

IGEO/UFBA, Campos Universitário de Ondina, 40210-340, Salvador –BA, Brasil.

aloísio_geo@yahoo.com.br, jgluz@ufba.br, lrogerio@ufba.br

This paper analyzes the groundwater resources in the São Francisco River Basin using hydrodynamic and hydrochemical data from tubular wells in the region. From the analysis two sectors were defined as follows: a) sector I located on the right side of the Sao Francisco River and b) sector II located on the left side of the river. These two sectors present distinct characteristics, which reflect the type of climate, geology and hydrogeological characteristics. Except for nitrate, sector I shows a higher values for both well related hydrodynamic and hydrochemical parameters, than sector II. The parameters well depth and pumping rate presented an ascending temporal tendency for sector II, which reflects the increase in the use of groundwater in that area. In addition, sector II is characterized by a low and irregular precipitation regime, combined with a crystalline basement and calcareous rocks. The hydrogeology of sector II is dominated by the presence of sedimentary rocks and higher precipitation, which facilitates the groundwater renew, thus decreasing solute concentration.

Palavras-chave: Água subterrânea, hidroquímica, hidrodinâmica, setor

INTRODUÇÃO

A área da bacia do rio São Francisco faz parte da unidade geotectônica denominada Cráton do São Francisco (Almeida, 1977) com rochas que datam do Arqueano ao Quaternário. Situada na parte oeste e noroeste do Estado da Bahia entre as longitudes 38°00’ e 46°40’W e latitudes 8°33’ e 15°18’S    (Fig. 1) com uma extensão aproximadamente de 305.588 Km² é caracterizada por uma grande diversidade geográfica e fisiográfica.

Em geral, a altitude da bacia varia entre 200 a 2000 m, com planícies, planaltos; destacando a leste o Domínio Chapada Diamantina, recortado por profundos vales. Na parte norte da bacia a topografia é ondulada com vales muito abertos. A bacia do rio São Francisco, na sua margem direita, não é rica em rios perenes, com a maioria dos seus afluentes apresentando caráter intermitente; a vegetação predominante é o cerrado e a caatinga. Em relação às águas subterrâneas, ocupam diferentes tipos de reservatórios, desde zona fraturada do substrato geológico pré-cambriano até depósitos quaternários.

Este trabalho tem como objetivo principal a análise da evolução temporal dos dados hidroquímicos e hidrodinâmicos coletados em poços tubulares da região da bacia do rio São Francisco, nos seus trechos médio e submédio.

No mapa da área de estudo (Fig. 1), foram plotados os poços existentes na região, onde através da  análise dos parâmetros hidroquímicos e hidrodinâmicos foi possível estabelecer uma relação entre as águas subterrâneas da bacia, os tipos climáticos e os deferentes tipos de reservatório. Com base nessa análise a área estudada foi dividida em dois setores com características distintas (Fig. 2).

O setor I localizado na margem direita do rio São Francisco é caracterizado principalmente pelos domínios hidrogeológicos do embasamento cristalino, dos metassedimentos e dos calcários. O clima é caracterizado pela aridez, classificado de árido a semi-árido, com precipitações irregulares entre 360 e 600 mm.

O setor II localizado na margem esquerda do rio São Francisco é constituído pelos domínios hidrogeológicos das bacias sedimentares, coberturas detríticas, calcários e, de forma menos expressiva, do embasamento cristalino e metassedimentos. A classificação climática deste setor é tropical semi-árido com precipitações entre 600 e 1200 mm, com duas estações definidas e chuvas concentradas no inverno e no verão.

 

Figura 1. Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco na parte Oeste e Noroeste do Estado Bahia.

 

 

Figura 2. Subdivisão setorial da bacia hidrográfica do rio São Francisco.

 

 

CARACTERÍSTICAS HIDROGEOLÓGICAS

Para a realização deste trabalho foram utilizados dados do inventário da CERB (1961-2001), que reúne um cadastro de aproximadamente 3700 poços tubulares ao longo de toda a bacia do rio São Francisco no Estado da Bahia. Este cadastro conta com dados referentes aos parâmetros hidroquímicos: cloretos (mg/L), dureza (mg/L), sólidos totais dissolvidos STD (mg/L), nitrato (mg/L), e hidrodinâmicos: profundidade do poço (m), nível estático NE (m), nível dinâmico ND (m) e vazão Q (m³/h).

Através dos softwares S-PLUS e ARCGIS estes dados foram submetidos a tratamentos estatístico, estabelecendo-se intervalos plurianuais com suas respectivas médias e desvios padrões, este último representando as variações em tais períodos. A utilização de intervalos plurianuais deve-se ao fato de que, para alguns anos, existiam abundância de dados enquanto que outros anos os mesmos eram escassos. Os dados foram agrupados em intervalos dez anos (1961-1970; 1971-1980), a exceção dos períodos 1981 a 1995 e 1996 a 2001 que foram agrupados em cinco anos e seis anos respectivamente, em função do volume de dados existentes.

Para a totalidade da bacia, observa-se que o nível estático (NE) mantém-se constante ao longo do tempo, ao contrário da profundidade e vazão, que de forma ascendente, demonstram aumento da demanda das águas subterrâneas, caracterizado pela presença de poços mais profundos e com maiores vazões (Figs. 3, 4). Para os parâmetros hidroquímicos, observa-se que STD e cloretos se mantêm constante, o inverso é observado para a dureza e o nitrato, onde se verifica o aumento nos teores desses elementos.

 

 

 


Figura 3.
Evolução Temporal dos dados hidrodinâmicos da bacia hidrográfica do rio São Francisco.

 

 

Figura 4 Evolução Temporal dos dados hidroquímicos da bacia hidrográfica do rio São Francisco.

 

Para o setor I, pode se observar que a variação temporal para os parâmetros hidrodinâmicos e hidroquímicos demonstra uma tendência crescente para ND e profundidade, ao contrário da vazão e NE, apresentando-se constante ao longo do tempo (Figs. 5, 6). Para os parâmetros hidroquímicos verifica-se uma tendência ascendente, ressaltando-se os valores altos dos teores de Nitrato e STD, servindo com indicativo de poluição química e/ou bioquímica.

 

 

Figura 5. Evolução Temporal dos dados hidrodinâmicos do setor I da bacia hidrográfica do rio São Francisco.

 

 

Figura 6. Evolução Temporal dos dados hidroquímicos do setor I da bacia hidrográfica do rio São Francisco.

 

Para o setor II, verifica-se que a tendência temporal é constante para o nível estático e nível dinâmico, a exceção para a vazão e profundidade que se apresenta de forma crescente (Figs. 7, 8). De forma acentuada, o teor nitrato demonstra uma tendência ascendente, enquanto que para os demais parâmetros hidroquímicos observa-se um decréscimo significativo, demonstrando a grande mobilidade de circulação e renovação das águas dos aqüíferos deste setor.

 

 

Figura 7. Evolução Temporal dos dados hidrodinâmicos do setor II da bacia hidrográfica do rio São Francisco.

 

 

Figura 8. Evolução Temporal dos dados hidroquímicos do setor II da bacia hidrográfica do rio São Francisco.

 

 

CONCLUSÕES

     As informações obtidas a partir de dados hidroquímicos e hidrodinâmicos para a Bacia do Rio São Francisco, nos seus trechos médio e sub-médio, revelaram que, em escala regional, pode-se identificar dois setores distintos com comportamentos bastante diferenciados, caracterizados principalmente pelos aspectos climáticos e geológicos. No caso do setor II, localizado no lado esquerdo do Rio São Francisco, observa-se um aumento significativo dos teores de nitratos, o que pode significar uma tendência de risco de contaminação, uma vez que nessa região existe uma concentração maior de atividades agro-industriais.

 

AGRADECIMENTOS

CNPq-CTEneg – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

NEHMA – Núcleo Estudos Hidrogeológico e do Meio Ambiente 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, F.F.M. de. 1977. O cráton do São Francisco. Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 7, n. 4, p. 349-364.

ANA – Agencia Nacional de Águas. 2002. Águas subterrâneas – Superintendência de Informações Hidrogeológica, SIH.

Fenzel, N. 1986. Introdução a Hidrogeoquímica. p. 35-36.

CERB – Companhia de Engenharia Rural da Bahia. 1961-2001.