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ST8 - 04


CARACTERÍSTICAS HIDROQUÍMICAS E QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SALITRE, BAHIA, BRASIL.

 

 

Luciano, R.L.; Bastos Leal, L.R.; Nascimento, S.A.M.; Luz, J.A.G.

 

Instituto de Geociências/UFBA, Campos Universitário de Ondina, 40210-340, Salvador -BA, Brasil.

rejell@ig.com.br, lrogerio@ufba.br, sergiomn@ufba.br, jgluz@ufba.br

 

ABSTRACT

 

The Salitre River Basin is located in the extreme north of the Chapada Diamantina geologic domain, covering an area of 14,500 km2. The basin is under a semi-arid climate, facing problems related to water supply. The hydrogeological features of the studied area define two main aquifers: i) a fractured-karstic system corresponding to a sequence of carbonate rocks of the Una Goup, and  ii) a clastic-fractured system developed within quartzite units of the Chapada Diamantina Group. Hydrochemical investigations of groundwater have been carried out on objectives of evaluating groundwater quality. This paper presents assessment of hydrochemical characteristic of groundwater in Salitre River Basin. The hydrochemical characteristics of the groundwater in the fractured-karstic aquifer system tend to show high salinity, total hardness and electric conductivity, and it is characterized by a high content of bicarbonate followed by the sulfate and chloride. In the clastic-fractured aquifer system the water tend to present lower salinity. The hydrochemical characteristic can reflect the climate conditions, as well as the high solubility of the carbonate rocks, in the salinization processes.

 

Palavras-chave: Águas subterrâneas, hidroquímica, Bacia do Rio Salitre


INTRODUÇÃO

A bacia hidrográfica do rio Salitre esta localizada na região centro-norte do Estado da Bahia, na extremidade norte dos domínios geológicos da Chapada Diamantina, entre as longitudes de 40°22’ e 41°30’W e latitudes 09°27’ e 11°30’S, possuindo uma área de aproximadamente 14.500 Km².

O comportamento das águas subterrâneas desta região subordina-se aos elementos geológicos e estruturais, associados aos domínios aqüíferos cársticos e fissurais, nesta ordem de importância (Fig. 1).

Este trabalho tem por objetivo definir as características hidroquímicas e a qualidade das águas subterrâneas da região da bacia do rio Salitre. Para tal, foram utilizados dados obtidos a partir de 30 análises físico-químicas de água, coletadas em poços tubulares associados aos metassedimentos do Grupo Chapada Diamantina e carbonatos do Grupo Una. Os resultados obtidos foram comparados com aqueles apresentados por CEI (1986) e Brito (2003). Finalmente serão apresentadas considerações acerca das características dos efluentes do processo industrial de beneficiamento do mármore Bege Bahia.

 

Figura 1. Domínios aqüíferos da bacia hidrográfica

do rio Salitre

 

 

 

CARACTERÍSTICAS HIDROGEOLÓGICAS

Do ponto de vista hidrogeológico, as unidades aqüíferas mais importantes da bacia do rio Salitre estão associadas aos carbonatos do Grupo Una, metassedimentos do Grupo Chapada Diamantina e terrenos granito-greenstone.

A unidades litoestratigráficas pré-cambrianas que compõem a bacia do rio Salitre são representadas por rochas formadas desde o Arqueano até o Neoproterozóico. As rochas que compõem os terrenos granito-greenstone estão posicionadas na extremidade norte da bacia, integram o embasamento cristalino do Complexo Salitre, possuem idades arqueanas e compõem os domínios aqüíferos fissurais (Fig. 1). Os poços tubulares perfurados neste domínio aqüífero apresentam vazões variando entre 3 e 26 m3/h, com vazões médias em torno de 8,5 m3/h.

Sobre o embasamento cristalino arqueano repousam os metassedimentos mesoproterozóicos do Grupo Chapada Diamantina, constituídos, da base para o topo, pelas Formações Tombador, Caboclo e Morro do Chapéu. Estas unidades litológicas são formadas principalmente por metassedimentos terrígenos, não apresentam porosidade primária, possuem padrão estrutural composto por amplos dobramentos com eixos de direção norte-sul e apresentam comportamento hidrogeológico típico de aqüífero fissural. Nas zonas dos flancos e charneiras dos sinclinais, este aqüífero possui padrão hidrogeológico de confinamento e os poços perfurados nesta unidade aqüífera apresentam vazões variando entre 1 e 32 m3/h, com valor médio de 10 m3/h.

A seqüência litoestratigráfica pré-cambriana na bacia do rio Salitre é finalizada com a deposição dos sedimentos neoproterozóicos do Grupo Una, recobrindo as rochas do embasamento cristalino e do Grupo Chapada Diamantina. O Grupo Una inclui as Formações Bebedouro e Salitre. A primeira ocorre de forma muito localizada e não apresenta interesse hidrogeológico. Por outro lado, a Formação Salitre ocupa grande parte da região e é formada, na base, por metassedimentos carbonáticos com intercalações de rochas terrígenas. Esta formação representa os aqüíferos cársticos da região, onde são encontradas as principais reservas de água subterrânea, em função de melhores condições de armazenamento e circulação, particularmente na região do alto Salitre, envolvendo as regiões de Várzea Nova até a localidade de São Tomé no centro da bacia (Fig. 1). Os poços perfurados no domínio cárstico apresentam geralmente maiores vazões que o domínio fissural, com valores variando entre 1  e 44 m3/h, com vazões médias em torno de 8,5 m3/h.

Ocorrem ainda na bacia as unidades geológicas que compõem as coberturas tércio-quaternárias representadas por seqüências detrito-lateríticas, as rochas pleistocênicas da Formação Caatinga e depósitos aluvionares do Quaternário, os quais não apresentam interesse hidrogeológico.

 

HIDROQUÍMICA E QUALIDADE DA ÁGUA

Para tratamento dos dados hidroquímicos e classificação das águas subterrâneas, foi utilizado o diagrama triangular de Piper (1944), a partir de software QualiGraf, sendo o mapa de domínios hidrogeológico/hidroquímico confeccionado no software ArcGis 8.3.

De acordo com a classificação das fácies hidroquímicas no diagrama de Piper, as águas subterrâneas da bacia apresentam um espectro composicional com a ocorrência de águas cloretadas cálcicas, bicarbonatadas cálcicas e mistas. Apenas uma amostra coletada a leste de Ourolândia, foi classificada como sulfatada-cálcica (Fig.2).

 

 

 


Figura 2.
Classificação das águas subterrâneas da bacia do rio Salitre, segundo o Diagrama de Piper (1944).

 

Embora não haja uma distinção muito clara entre as fácies hidroquímicas das águas subterrâneas da bacia, quimicamente as águas associadas aos domínios cársticos, tendem a apresentar alta salinidade (1,02 mg/L), dureza (788,04 mg/L) e condutividade elétrica (15,20 dS/L), além da predominância dos íons cloreto e cálcio. Ainda no domínio cárstico, a condutividade elétrica (CE) traduz a alta salinidade e os sólidos totais dissolvidos (STD), especialmente os íons cloretos, Ca, Mg e Na. Os íons cloretos estão associados aos íons fluoretos, Mg e Na, enquanto a DT vincula-se, principalmente, aos carbonatos e bicarbonatos de cálcio em solução.

No caso do domínio fissural associado aos metassedimentos do Grupo Chapada Diamantina, as águas apresentam baixos valores de salinidade  (0,58 mg/L), dureza (441,69 mg/L) e condutividade elétrica (1,20 dS/L). Contudo, por se posicionarem estratigraficamente abaixo dos calcários as águas podem sofrer interferência na qualidade da água a partir das zonas de fluxo vertical de contato.

Na região do baixo Salitre, onde ocorrem os terrenos granito-greenstone, as águas apresentam os maiores valores de salinidade, dureza e condutividade elétrica (Brito, 2003). Tal comportamento decorre do fato da recarga do aqüífero deste segmento estar associado a fluxo de águas subterrâneas com elevadas concentrações de sais dissolvidos a partir do domínio cárstico, bem como devido as altas taxas de evapotranspiração neste segmento da bacia.

O tratamento estatístico dos dados hidroquímicos revela correlação direta (r>0,80) entre: a condutividade elétrica (CE) com salinidade, e sólidos totais dissolvidos (STD), cloreto, dureza total (DT), Ca, Mg e Na; o Eh com P reativo total e Fe. O STD correlacionou-se bem com o cloreto, DT, Ca, Mg e Na. O cloreto guarda uma estreita relação com o fluoreto, Mg e Na, enquanto a DT está estreitamente associada às altas concentrações de Cálcio.

A comparação das concentrações iônicas obtidas para as águas subterrâneas da bacia com os limites de potabilidade das águas para consumo humano, estabelecidos pela Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde, revelam que aquelas associadas aos metassedimentos, apresentam pequenas restrições para o consumo humano, enquanto que as águas do domínio cárstico possui padrão físico-químico incompatível com o uso humano, especialmente pelas altas concentrações de sais. Porém há poucas restrições para o uso das águas subterrâneas da bacia em atividades agrícolas e industriais.

Análises realizadas em amostras de efluentes das serrarias de Mármore Bege Bahia, revelaram valores anormais de sólidos totais dissolvidos (STD = 945 e 3380 mg/L), cobre (0,05 mg/L), ferro (0,35 mg/L), manganês total (0,08 mg/L) e sulfato (469 mg/L). Estes resultados sugerem que os processos de beneficiamento do mármore na região, com tratamento de efluentes em circuito fechado, apresentam boa eficiência na remoção de possíveis contaminantes.

 

CONCLUSÕES

As informações hidrogeológicas e hidroquímicas apresentadas para as águas subterrâneas da bacia do rio Salitre, revelam que os domínios hidrogeológicos fissurais e cársticos possuem pequenas espessuras e capacidade de armazenamento limitado, embora apresente maior potencialidade em algumas regiões como no alto Salitre e na localidade de Lagoas no município de Campo Formoso.

Do ponto de vista hidroquímico, as águas subterrâneas da bacia mostram grande variação nas concentrações de sais dissolvidos, com teores mais elevados associados aos domínios das rochas carbonáticas e cristalinas, condicionados ao efeito climático e a solubilidade das rochas no processo de salinização.

Quanto à qualidade ambiental e uso das águas subterrâneas da bacia, pode-se dizer que há restrições para o uso domestico, especialmente quanto aos teores de sais. Por outro lado, os padrões hidroquímicos indicam não haver restrições importantes para os usos agrícola e industrial.

 

AGRADECIMENTOS

     Os autores desejam agradecer ao – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (processo nº 475655-03-6) pelo apoio financeiro e a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral – CBPM pelo apoio no desenvolvimento dos trabalhos de campo e execução das análises hidroquímicas.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brito, L.T.L. 2003. Avaliação de impactos das atividades antrópicas sobre os recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio Salitre-Bahia e classificação das fontes hídricas. Campina Grande, 186p. (Tese de Doutorado, Universidade Federal de Campina Grande).

CEI – Centro de Estatística e Informações. 1986. Avaliação dos recursos hídricos das bacias hidrográficas do Estado da Bahia – bacia do rio Salitre. Salvador, Secretaria do Planejamento, Ciência e Tecnologia, 101 p.

CBPM – Companhia Baiana de Pesquisa Mineral. 2004. Estudo e definição do modelo hidrogeológico da bacia do rio Salitre, onde ocorrem os depósitos do “Mármore Bege-Bahia”. Salvador. 63 p.