INDEX
ST7 - 12


MAPA METALOGENÉTICO DIGITAL DO ESTADO DA BAHIA

 

Teixeira, J.B.G.1; Misi, A.1; Sá, J.H.S.1; Silva, A.B.2; Dias, L.S.O.3; Rocha, G.A.3;

Correia, J.4; Rocha, G.4

 

1. Grupo de Metalogênese, Centro de Pesquisa em Geofísica e Geologia (CPGG/UFBA) - jbt@ufba.br, misi@ufba.br mister_sa@ig.com.br

2. Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) - abarros@uefs.br

3. Consultores Independentes - leonardo.santana@gmail.com, glaucio.rocha@gmail.com,

4. Estagiários no Projeto Mapa Metalogenético do Estado da Bahia - jucorreia@hotmail.com, rocha.gabriel@gmail.com

 

 

ABSTRACT

The digital Metallogenic Map of Bahia is a joint production of the Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), the Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) and the Universidade Federal da Bahia (UFBA), with financial assistance from Secretaria de Indústria, Comércio e  Mineração do Estado da Bahia (SICM).
The main objective is the establishment of interpretative metallogenic models for the mineral provinces of the State, following the up-to-date theoretical approach on the genesis of mineral deposits. Modern tools for analysis and data integration are being applied, while a free data analysis software is being developed, aiming at a broad dissemination of the acquired knowledge on the subject.

 


INTRODUÇÃO

     O “Projeto Mapa Metalogenético do Estado da Bahia”, está sendo executado pelo Grupo de Metalogênese da UFBA em convênio com a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM). Este projeto tem como principal objetivo o estabelecimento de modelos genético-interpretativos e previsionais para as principais províncias minerais localizadas em território baiano, visando a atração de novos investimentos para o setor mineral do Estado. Ferramentas modernas de análise e integração de dados estão sendo utilizadas, ao mesmo tempo em que são desenvolvidos métodos aplicados na divulgação ampla dos dados e dos conhecimentos gerados, tanto sob a forma eletrônica (Internet e discos compactos) quanto impressa, para uso por empresários de mineração, cientistas, professores, estudantes e outros potenciais interessados.

 

BASES CONCEITUAIS

As bases teóricas da metalogênese moderna atestam que o calor transmitido a partir do manto proporciona a energia que alimenta os processos litosféricos. Fluidos derivados do manto em determinados ambientes geotectônicos permitem a movimentação de elementos químicos  através do limite manto-crosta e controlam a distribuição (e concentração) destes elementos na crosta superior. Os fundamentos para compreensão da existência e distribuição das províncias minerais, em última análise, são baseados no entendimento dos processos de evolução mantélica, geração e modificação de rochas crustais (magmatismo e metamorfismo) deformação tectônica, geração de calor, movimentação de fluidos e transporte de metais.

As províncias metalogenéticas da Bahia, já conhecidas ou a serem reveladas, são delineadas em função das seguintes bases conceituais:

Associação de depósitos minerais: Cada província metalogenética inclui um único tipo de depósito mineral ou um grupo de depósitos minerais geneticamente relacionados, formados no mesmo intervalo de tempo.

Evento geodinâmico para formação dos depósitos: Cada província metalogenética contém um grupo de depósitos geneticamente relacionados e formados durante um evento geodinâmico específico, por exemplo, colisão continental, vulcanismo de margem continental, tectônica extensional, etc.

Ambiente geológico favorável: Cada província metalogenética se sobrepõe a um substrato de rochas, estruturas ou a uma associação de ambas que são favoráveis para formar uma suíte particular de depósitos minerais.

Limites geológicos ou tectônicos: Cada província metalogenética está geralmente contida em unidades estratigráficas ou magmáticas favoráveis, ou limitada por grandes falhas (paleossuturas), ao longo das quais ocorreram movimentos importantes.

     A disponibilidade de dados geológico-geotectônicos georreferenciados e a análise integrada de cada província metalogenética a partir desses conceitos poderão conduzir à descoberta de novos depósitos. No momento, está sendo utilizada a base de dados geológicos do Mapa Geológico do Estado da Bahia (SIG Bahia, 2003) assim como o banco de dados de ocorrências e depósitos minerais (Base OCOR) da CBPM, devidamente atualizada.

 

PROCESSOS PETROGENÉTICOS  E DEPÓ-SITOS MINERAIS

     As unidades representadas no Mapa Geológico do Estado (SIG-Bahia 2003) foram agrupadas considerando os seguintes processos e seus produtos:

Sedimentação e Pedogênese

·            Formação de aluviões e dunas: aluvião, conglomerado, cascalho, areia.

·            Pedogênese e laterização: solo, argila, laterita.

·            Sedimentação biogênica: diatomito, turfito.

·            Sedimentação siliciclástica: siliciclastos.

·            Sedimentação carbonática: carbonatos.

·            Sedimentação glacial: diamictito glacial, varvito, tilito.

·            Sedimentação química: evaporito, salgema, silexito.

Magmatismo Intrusivo

·            Máfico-ultramáfico: diabásio, diorito, gabro, serpentinito, peridotito, ofiolito, anortosito, kimberlito.

·            Intermediário-félsico: granito, granitóide, monzonito, granodiorito, sienito, tonalito, pegmatito, etc.

·            Alcalino-carbonatítico: carbonatito.

Magmatismo Extrusivo

·            Vulcanismo submarino: associações do tipo “greenstone belt” ou vulcano-sedimentares.

·            Vulcanismo continental ou subaéreo: derrames básicos (basalto), derrames félsicos e intermediários.

 Metamorfismo

·            Sedimentar-metamórfico: formação ferrífera bandada

·            Metamorfismo regional e de alto grau: gnaisse, xisto, charnockito, enderbito.

     Os agrupamentos litológicos relacionados aos processos (conforme acima classificados), assim como os ambientes tectônicos e os depósitos minerais, serão considerados para cada Era representada no Mapa Geológico da Bahia (do Arqueano ao Cenozóico). As bases de dados de ocorrências e depósitos minerais da CBPM e da CPRM estão sendo revistas, a fim de que seja possível a inclusão de todos os elementos químicos, das rochas geradoras de concentrações minerais e das suas possíveis associações.

AMBIENTES GEOTECTÔNICOS

Os ambientes geotectônicos geradores de concentrações minerais e verificados no território do Estado foram assim classificados:

Zonas divergentes: rifte, aulacógeno, bacia de retro-arco, bacia de margem ativa, bacia de margem passiva, bacia intracratônica, granitogênese tipo A, derrames máfico-ultramáficos, associações do tipo greenstone belt ou vulcano-sedimentar, chaminés kimberlíticas.

Zonas de colisão continental: orógenos, paleos-suturas, granitogênese do tipo S.

 

EVOLUÇÃO GEOTECTÔNICA E METALO-GÊNESE

Os blocos arqueanos que compõem o Cráton do São Francisco fizeram parte dos paleocontinentes Atlântica (Paleoproterozóico), Rodínia (Mesopro-terozóico e Neoproterozóico), e Gondwana Ocidental (Neoproterozóico ao Fanerozóico). A evolução geotectônica e metalogenética envolvendo estes blocos são discutidas a seguir (Tabela 1).

 

Paleoproterozóico (Atlântica)

A agregação de blocos para formar o Cráton do Sâo Francisco ocorreu no paleocontinente Atlântica. Várias fases de mineralizações ocorreram durante este evento, cada uma delas seguramente associada a processos discretos de interação manto-crosta (Teixeira & Misi, 2003). Esta fase evolutiva foi responsável pela formação de variados tipos de depósitos minerais, tais como Au, Cr, Be, Cu, Sn e Pd.

 

Mesoproterozóico (Rodínia)

Algumas mineralizações de Au, Mn e diamantes que ocorrem nos Estados da Bahia estão relacionadas à evolução da Bacia do Espinhaço, depositada no intervalo de 1750 a 1550 Ma. A mineralização de urânio de Lagoa Real (BA) foi datada em 960 Ma (Dardenne & Schobbenhaus, 2001), que corresponde ao final da fase de agregação do paleocontinente Rodínia.

 

Neoproterozóico (Rodínia e Gondwana Ociden-tal)

A deposição das bacias carbonático-siliciclásticas epicontinentais e de margens passivas (Grupo Bambuí e seqüências cronocorrelatas) que ocorreu principalmete durante a fase de dispersão do paleocontinente Rodínia. A esta fase se associam depósitos de Zn, Pb, F, Ba e Ag, bem como concentrações primárias de fosfato.


 

Figura 1. Esboço das unidades geotectônicas do Cráton do São Francisco no Estado da Bahia, com ênfase na  província orogenética do leste (PO) e na província extensional do centro-oeste do Estado (PE). As principais ocorrências de cobre, manganês, níquel, ouro e ferro foram plotadas a partir do banco de dados OCOR da CBPM.


Fanerozóico (Gondwana Ocidental)

     A Província Pegmatítica Oriental do extremo sul do Estado foi gerada durante eventos de fusão crustal e granitogênese que ocorreram na fase de colapso extensional da Província Araçuaí, no início do Fanerozóico. Os eventos de sedimentação (fases  pré-rifte e rifte que geraram as bacias petrolíferas baianas (Recôncavo-Tucano, Jacuípe, Camamu-Almada, etc.) ocorreram durante os estágios iniciais da ruptura do paleocontinente Gondwana Ocidental.

 

CONCLUSÃO

     A Tabela 1 procura indicar a relação entre a evolução geotectônica do Cráton do São Francisco e as principais mineralizações que ocorrem no Estado da Bahia.

O mapa da Figura 1 mostra, a título de exemplo, informações extraídas das bases de dados integradas. Apenas como exemplo, duas importantes províncias tectônicas do Estado são delineadas: (i) A província orogenética da região leste, com idades acima de 1,8Ga e formada predominantemente por rochas de fácies granulíto, e (ii) a província extensional da região oeste do Estado, com idades bem definidas entre 1,7 e 1,8 Ga e representada por magmatogênese tipo A, dentre outros. Essas províncias tectônicas correspondem também a províncias metalogenéticas, onde agrupamentos de depósitos minerais geneticamente relacionados se associam.

 

REFERÊNCIAS

Teixeira  J.B.G. & Misi, A. 2003. Paleoproterozoic Crust Formation and the Neoproterozoic Metallogeny of South America, International Geological Correlation Programme IGCP 450 - Conference and Field Workshop, Lubumbashi, 2003, Proterozoic Sediment-hosted Base Metal Deposits of Western Gondwana, 2003:53-58.

Dardenne, M.A.& Schobbenhaus, C. 2003. Depósitos Minerais no Tempo Geológico e Épocas Metalogenéticas In: Bizzi, L.A., Schobbenhaus C., Vidotti, R.M., Gonçalves, J.H. (Eds.) Geologia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil, CPRM, Brasília:365-448.