INDEX
ST7 - 11

 

evolução geotectônica e METALOGÊNESE  no cráton
do são francisco DURANTE O PROTEROZÓICO

Teixeira, J. B. G.1, Misi, A.1; Silva, M. G.1,2

 

1. Grupo de Metalogênese, Centro de Pesquisa em Geofísica e Geologia, Universidade Federal da Bahia, Campus Universitário de Ondina, Sala 201-C, 40170-290, Salvador  - BA, Brasil - jbt@ufba.br, misi@ufba.br, gloria@ufba.br

2. Serviço Geológico do Brasil (CPRM) - gloria@rj.cprm.gov.br

 

 

ABSTRACT
The cratonic blocks of the South American Platform have been accreted from 2.2 to 1.9 Ga, and all of these blocks have been previously involved in the assembly and breakup of the Paleoproterozoic Atlantica, the Mesoproterozoic Rodinia, and the Neoproterozoic- to Phanerozoic West Gondwana continents. The Atlantica paleocontinent included the majority of Precambrian provinces belonging to the present-day South American continent, namely Amazon, Guyana, São Francisco, Rio de La Plata and Borborema, together with the West African Craton and the Yilgarn and Pilbara blocks of Western Australia.

Several mineralization events have sequentially taken place in the São Francisco Craton during the Paleoproterozoic Era, mainly of Au, Cr, Ni, Cu, and Be, with every one unequivocally associated with a discrete stage of mantle-crust interaction. The events related to the evolution of Rodinia, in the Meso- to Neoproterozoic, were responsible for several metallogenic processes that formed a variety of mineral deposits in the São Francisco Craton and in the Brasilia Belt, including Zn-Pb, fluorite and phosphate deposits. The breakup of Rodinia characterized a very important metallogenic epoch, including deposition of the epicontinental and passive margin-type carbonate-siliciclastic basins, which host important Zn-Pb deposits that are being exploited at the Vazante and Morro Agudo mines. A genetic model for these deposits involves extensional faults driving the circulation of hydrothermal mineralizing fluids from the Archean/Paleoproterozoic basement to the Neoproterozoic sedimentary cover. 

Palavras-chaves:  Paleocontinentes, Metalogênese, Proterozóico, Cráton do São Francisco.

 

INTRODUÇÃO

Os blocos cratônicos da Plataforma Sul-Americana foram amalgamados entre 2200 Ma e 1900 Ma (Sato & Siga Jr., 2000). Todos esses blocos estiveram previamente envolvidos no agrupamento e dispersão dos supercontinentes Atlântica (Paleoproterozóico), Rodínia (Mesoproterozóico e Neoproterozóico), e Gondwana Ocidental (Neoproterozóico ao Fanerozóico). Os processos mineralizantes ocorridos durante o Proterozóico no Cráton do São Francisco são aqui abordados dentro de uma visão tectônica global e temporal.

 

PALEOPROTEROZÓICO

Com utilização de critérios de correlação geológica e geocronológica, Teixeira e Misi (2003) propuseram uma reconstrução para o paleocontinente Atlântica (Figura 1). Os elementos mais confiáveis para tal hipótese de correlação foram: (i) o magmatismo toleítico Birrimiano e Transamazônico (2200-2100 Ma); (ii) os remanescentes granulíticos e granitóides de grandes cinturões orogênicos, os quais representam a mais importante fase colisional, e (iii) os depósitos minerais, que representam produtos de fases metalogenéticas relacionados a processos tectonotermais de caráter regional. A evolução de Atlântica contempla todas as etapas de um Ciclo de Wilson, que culminou com a incorporação de processos tectônicos e metalogenéticos relacionados com o desenvolvimento de uma superpluma mantélica (Teixeira & Misi, 2003).

 Várias fases de mineralizações ocorreram no Cráton do São Francisco, cada uma delas seguramente associada a processos discretos de interação manto-crosta. Os eventos relacionados a esta fase evolutiva foram responsáveis pela formação de variados tipos de depósitos minerais, tais como Au, Cr, Be, Cu, Sn e Pd (Tabela 1).

 

 

MESOPROTEROZÓICO

A Bacia do Espinhaço foi depositada no intervalo de 1750 a 1500 Ma, durante uma fase extensional muito longa, que transcorreu desde a ruptura e desagregação do paleocontinente Atlântica até o início da aglutinação do paleocontinente Rodínia (Figura 2). Algumas mineralizações de Au, Mn e diamantes que ocorrem nos estados da Bahia e Minas Gerais foram relacionadas à evolução da Bacia do Espinhaço.

A mineralização de urânio de Lagoa Real (BA) foi datada em 960 Ma (Dardenne & Schobbenhaus, 2001), que corresponde ao final da fase de agregação do paleocontinente Rodínia.

 

NEOPROTEROZÓICO

A aglutinação e a dispersão do paleocontinente Rodínia, em conjunto com a formação do paleocontinente Gondwana, envolveram a formação de vários depósitos minerais (Cu, Co, Pb, Zn, Ag, fosfato e fluorita) durante o Neoproterozóico, cujas origens foram controlados principalmente pelos processos crustais

A dispersão do Rodinia representa uma época metalogenética de grande importância. Foi aproximadamente a partir da segunda metade do Neoproterozóico que teria ocorrido a deposição das bacias carbonático-siliciclásticas epicontinentais e de margens passivas, que hospedam importantes depósitos de metais-base não ferrosos de Cu-Co e Pb-Zn-Ag, explotados na África e na América do Sul (ex. Vazante e Morro Agudo, no Brasil), respectivamente. Análises isotópica de Pb em sulfetos nesses depósitos revelam uma fonte crustal para os metais (Cunha et al., 2003; Misi et al., 2004; Kamona et al., 1999; Frimmel et al. 2004).

 

CONCLUSÃO

Todos os componentes do Cráton do São Francisco fizeram parte do paleocontinente Atlântica, o qual experimentou uma fase de crescimento acelerado durante o magmatismo da fase colisional, seguida pela sobrelevação do manto, no intervalo de 2100 a 1900 Ma. Exemplos de processos metalogenéticos relacionados à fase de acresção são, as mineralizações sin-colisionais de Au no greenstone belt do Rio Itapicuru e as mineralizações pós-colisionais, de Au e esmeralda na Serra de Jacobina e cromita no Vale do Rio Jacuricí (BA).

 

 

 


Figura 1. Reconstrução do paleocontinente Atlântica há cerca de 1,85 Ga. Fontes dos dados geológicos: Amazônia (Tassinari et al., 2000; Guiana (Vanderhaege et al., 1998); São Francisco (Barbosa e Dominguez, 1996; Barbosa e Sabaté, 2002); África Ocidental (Milesi, 1989); Borborema (Fetter et al., 2000); Austrália Ocidental (Groves, 1982; Cawood e Tyler, 2004; Kinny et al., 2004; Pirajno et al., 2004).

 

Figura 2. Reconstrução do paleocontinente Rodínia há cerca de 1,0 Ga. Modificado de Dalziel et al. (2000) e Loewy et al. (2003).

 

Após a fase colisional, a sobrelevação da astenosfera evoluiu para um episódio de superpluma mantélica, o qual causou rifteamento, vulcanismo continental e intrusão de granitos anorogênicos, no intervalo de 1880 a 1760 Ma. O resultado deste episódio foi a fragmentação do Atlântica. Esta foi uma fase metalogênica muito produtiva no Cráton do São

Francisco, com mineralizações de Sn na Chapada Diamantina (BA) e Au-Pd em Itabira (MG).

O evento extensional, que resultou na fragmentação do Rodínia, constituiu uma fase metalogenética muito importante, com a deposição das bacias carbonático-siliciclásticas, hospedeiras das mineralizações de Zn-Pb de Vazante e Morro Agudo (MG). Um modelo genético atualizado para estes depósitos leva em conta a existência de falhas extensionais, que permitiram a circulação de fluidos enriquecidos de metais na cobertura sedimentar Neoproterozóica (Misi et al., 2004).

 



 

Tabela 1.  Eventos geotectônicos e metalogenéticos no Cráton do São Francisco durante o Proterozóico. As áreas com tonalidade cinza-claro indicam períodos de extensão que antecederam as aglutinações dos paleocontinentes Atlântica, Rodínia e Gondwana Ocidental.  Modificado de Teixeira & Misi, 2003

 


REFERÊNCIAS

Barbosa, J.S.F. & Sabaté, P. 2002. Geological features and the Paleoproterozoic collision of four Archean crustal segments of the São Francisco Craton, Bahia, Brazil.: A synthesis. Annals of the Brazilian Academy of Sciences, v. 74:343359.

Barbosa, J.S.F. & Dominguez, J.M.L. (Coords.) 996.  Mapa Geológico do Estado da Bahia, Escala 1:1.000.000. Estado da Bahia, Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração. Salvador, Bahia, Brazil.

Cawood, P.A. & Tyler, J.M. 2004. Assembling and reactivating the Proterozoic Capricorn Orogen: lithotectonic elements, orogenies, and significance. Precambrian Research, v. 128:201-218.

Cunha I.A., Babinski  M. & Misi, A. 2003. Lead isotopic constraints on the genesis of the Pb-Zn mineralizations from the Vazante Group, Minas Gerais, Brazil. In: Cailteux, J.L.H. (Org.) IUGS-UNESCO International Geological Correlation Programme IGCP 450  Conference and Field Workshop, Lubumbashi, 2003.

Dalziel, I.W.D., Mosher, S. & Gahagan, L.M. (2000) Laurentia-Kalahari collision and the assembly of Rodinia. Journal of Geology, v. 108:499-513.

Dardenne, M. & Schobbenhaus, C., 2001. Metalogênese do

       Brasil. Brasília. Editora Universidade de Brasília.

Fetter A.H., Van Schmus W.R., Santos T.J.S., Nogueira Neto J.A. & Arthaud, M.H. 2000. U-Pb and Sm-Nd geochronological constraints on the crustal evolution and basement architecture of Ceará State, NW Borborema Province, NE Brazil: implications for the existence of the Paleoproterozoic supercontinent “Atlantica”. Revista Brasileira de Geociências, v. 30:102-106.

Frimmel H.E., Jonasson I.R. & Mubita P. 2004. An Eburnean base metal source for sediment-hosted zinc-lead deposits in Neoproterozoic units of Namibia: Lead isotopic and geochemical evidence. Mineralium Deposita, v. 39: 328-343.

Groves D.I. 1982. The Archaean and earliest Proterozoic evolution and metallogeny of Australia. Revista Brasileira de Geociências, v. 12:135-148.

Kamona A.F., Léveque J., Friedrich  G. & Haack, U. 1999.Lead isotopes of the carbonate-hosted Kabwe, Tsumeb, and Kipushi Pb-Zn-Cu sulfide deposits in relation to Pan African orogenesis  in the Damaran-Lufilian fold belt of Central Africa. Mineralium Deposita, v. 34:273-283.

Kinny P.D., Nutman A.P. & Occhipinti, S.A. 2004. Reconnaissance dating of events recorded in the southern part of the Capricorn Orogen. Precambrian Research, v. 128:279-294.

Loewy, S.L., Connelly, J.N., Dalziel, I.W.D. & Grower, C.F. 2003. Eastern Laurentia in Rodinia: constraints from whole-rock Pb and U/Pb geochronology. Tectonophysics, v. 375:169-197.

Milesi J-P. (Coord.) 1989. West African Gold Deposits in their Lower Proterozoic Lithostructural Setting. Éditions du BRGM. Chroniques de la Recherche Minière, no. 497, 98 pp., map.

Misi A., Iyer S.S.S., Tassinari C.C.G., Franca-Rocha W.J.S., Coelho C.E.S., Cunha I.A. & Gomes, A.S.R. 2004. Dados isotópicos de Chumbo em sulfetos e a evolução metalogenética dos depósitos de Zinco e Chumbo das coberturas neoproterozóicas do Cráton do São Francisco. Revista Brasileira de Geociências, v. 34:263-274.

Pirajno F., Jones P.A., Hocking R.M. & Halivovic, J. 2004. Geology and tectonic evolution of Paleoproterozoic basins of the eastern Capricorn Orogen, Western Australia. Precambrian Research, v. 128:315-342.

Sato K. & Siga Júnior, O. 2000. Evidence of the superproduction of the continental crust during Paleoproterozoic in South American Platform: Implications regarding the interpretative value of the Sm-Nd model ages. Revista Brasileira de Geociências, v.  30:126-129.

Tassinari C.C.G., Bettencourt J.S., Geraldes M.C., Macambira M.J.B. & Lafon, J.M. 2000. The Amazonian Craton, In: Cordani, U.G. et al. (Eds.) Tectonic Evolution of South America. Rio de Janeiro: 31st International Geological Congress, 2000:41-95.

Teixeira  J.B.G. & Misi, A. 2003. Paleoproterozoic Crust Formation and the Neoproterozoic Metallogeny of South America, In: Cailteux, J.L.H. (Org.) IUGS-UNESCO International Geological Correlation Programme IGCP 450 - Conference and Field Workshop, Lubumbashi, 2003, Proterozoic Sediment-hosted Base Metal Deposits of Western Gondwana, 2003:53-58.

Vanderhaege O., Ledru P., Thiéblemont E.E., Cocherie A., Tegyey M. &  Milesi, J-P. 1998. Contrasting mechanism of crustal growth: Geodynamic evolution of the Paleoproterozoic granite-greenstone belts of French Guiana. Precambrian Research, v. 92:165-193.