evolução
geotectônica e METALOGÊNESE no cráton Teixeira, J. B. G.1, Misi, A.1; Silva, M. G.1,2
1. Grupo de Metalogênese, Centro de Pesquisa em Geofísica e Geologia, Universidade Federal da Bahia, Campus Universitário de Ondina, Sala 201-C, 40170-290, Salvador - BA, Brasil - jbt@ufba.br, misi@ufba.br, gloria@ufba.br 2. Serviço Geológico do Brasil (CPRM) - gloria@rj.cprm.gov.br
ABSTRACT Several mineralization events have sequentially taken place in the São Francisco Craton during the Paleoproterozoic Era, mainly of Au, Cr, Ni, Cu, and Be, with every one unequivocally associated with a discrete stage of mantle-crust interaction. The events related to the evolution of Rodinia, in the Meso- to Neoproterozoic, were responsible for several metallogenic processes that formed a variety of mineral deposits in the São Francisco Craton and in the Brasilia Belt, including Zn-Pb, fluorite and phosphate deposits. The breakup of Rodinia characterized a very important metallogenic epoch, including deposition of the epicontinental and passive margin-type carbonate-siliciclastic basins, which host important Zn-Pb deposits that are being exploited at the Vazante and Morro Agudo mines. A genetic model for these deposits involves extensional faults driving the circulation of hydrothermal mineralizing fluids from the Archean/Paleoproterozoic basement to the Neoproterozoic sedimentary cover. Palavras-chaves: Paleocontinentes, Metalogênese, Proterozóico, Cráton do São Francisco.
INTRODUÇÃO Os blocos cratônicos da Plataforma Sul-Americana foram amalgamados entre 2200 Ma e 1900 Ma (Sato & Siga Jr., 2000). Todos esses blocos estiveram previamente envolvidos no agrupamento e dispersão dos supercontinentes Atlântica (Paleoproterozóico), Rodínia (Mesoproterozóico e Neoproterozóico), e Gondwana Ocidental (Neoproterozóico ao Fanerozóico). Os processos mineralizantes ocorridos durante o Proterozóico no Cráton do São Francisco são aqui abordados dentro de uma visão tectônica global e temporal.
PALEOPROTEROZÓICO Com utilização de critérios de correlação geológica e geocronológica, Teixeira e Misi (2003) propuseram uma reconstrução para o paleocontinente Atlântica (Figura 1). Os elementos mais confiáveis para tal hipótese de correlação foram: (i) o magmatismo toleítico Birrimiano e Transamazônico (2200-2100 Ma); (ii) os remanescentes granulíticos e granitóides de grandes cinturões orogênicos, os quais representam a mais importante fase colisional, e (iii) os depósitos minerais, que representam produtos de fases metalogenéticas relacionados a processos tectonotermais de caráter regional. A evolução de Atlântica contempla todas as etapas de um Ciclo de Wilson, que culminou com a incorporação de processos tectônicos e metalogenéticos relacionados com o desenvolvimento de uma superpluma mantélica (Teixeira & Misi, 2003). Várias fases de mineralizações ocorreram no Cráton do São Francisco, cada uma delas seguramente associada a processos discretos de interação manto-crosta. Os eventos relacionados a esta fase evolutiva foram responsáveis pela formação de variados tipos de depósitos minerais, tais como Au, Cr, Be, Cu, Sn e Pd (Tabela 1).
MESOPROTEROZÓICO A Bacia do Espinhaço foi depositada no intervalo de 1750 a 1500 Ma, durante uma fase extensional muito longa, que transcorreu desde a ruptura e desagregação do paleocontinente Atlântica até o início da aglutinação do paleocontinente Rodínia (Figura 2). Algumas mineralizações de Au, Mn e diamantes que ocorrem nos estados da Bahia e Minas Gerais foram relacionadas à evolução da Bacia do Espinhaço. A mineralização de urânio de Lagoa Real (BA) foi datada em 960 Ma (Dardenne & Schobbenhaus, 2001), que corresponde ao final da fase de agregação do paleocontinente Rodínia.
NEOPROTEROZÓICO A aglutinação e a dispersão do paleocontinente Rodínia, em conjunto com a formação do paleocontinente Gondwana, envolveram a formação de vários depósitos minerais (Cu, Co, Pb, Zn, Ag, fosfato e fluorita) durante o Neoproterozóico, cujas origens foram controlados principalmente pelos processos crustais A dispersão do Rodinia representa uma época metalogenética de grande importância. Foi aproximadamente a partir da segunda metade do Neoproterozóico que teria ocorrido a deposição das bacias carbonático-siliciclásticas epicontinentais e de margens passivas, que hospedam importantes depósitos de metais-base não ferrosos de Cu-Co e Pb-Zn-Ag, explotados na África e na América do Sul (ex. Vazante e Morro Agudo, no Brasil), respectivamente. Análises isotópica de Pb em sulfetos nesses depósitos revelam uma fonte crustal para os metais (Cunha et al., 2003; Misi et al., 2004; Kamona et al., 1999; Frimmel et al. 2004).
CONCLUSÃO Todos os componentes do Cráton do São Francisco fizeram parte do paleocontinente Atlântica, o qual experimentou uma fase de crescimento acelerado durante o magmatismo da fase colisional, seguida pela sobrelevação do manto, no intervalo de 2100 a 1900 Ma. Exemplos de processos metalogenéticos relacionados à fase de acresção são, as mineralizações sin-colisionais de Au no greenstone belt do Rio Itapicuru e as mineralizações pós-colisionais, de Au e esmeralda na Serra de Jacobina e cromita no Vale do Rio Jacuricí (BA).
Figura 2. Reconstrução do paleocontinente Rodínia há cerca de 1,0 Ga. Modificado de Dalziel et al. (2000) e Loewy et al. (2003).
Após a fase colisional, a sobrelevação da astenosfera evoluiu para um episódio de superpluma mantélica, o qual causou rifteamento, vulcanismo continental e intrusão de granitos anorogênicos, no intervalo de 1880 a 1760 Ma. O resultado deste episódio foi a fragmentação do Atlântica. Esta foi uma fase metalogênica muito produtiva no Cráton do São Francisco, com mineralizações de Sn na Chapada Diamantina (BA) e Au-Pd em Itabira (MG). O evento extensional, que resultou na fragmentação do Rodínia, constituiu uma fase metalogenética muito importante, com a deposição das bacias carbonático-siliciclásticas, hospedeiras das mineralizações de Zn-Pb de Vazante e Morro Agudo (MG). Um modelo genético atualizado para estes depósitos leva em conta a existência de falhas extensionais, que permitiram a circulação de fluidos enriquecidos de metais na cobertura sedimentar Neoproterozóica (Misi et al., 2004).
Tabela 1. Eventos geotectônicos e metalogenéticos no Cráton do São Francisco durante o Proterozóico. As áreas com tonalidade cinza-claro indicam períodos de extensão que antecederam as aglutinações dos paleocontinentes Atlântica, Rodínia e Gondwana Ocidental. Modificado de Teixeira & Misi, 2003
REFERÊNCIAS
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