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Moraes, I.O.1, Valeriano C.M.2 e Assis C.M.1
ABSTRACT
Palavras-chave: Faixa Weber, greenstone belt, evolu��o estrutural, ouro
INTRODU��O O Greenstone Belt do Rio Itapicuru (GBRI) localiza-se na por��o nordeste do Craton do S�o Francisco, nordeste do Estado da Bahia. Trata-se de um terreno paleoproteroz�ico, constitu�do por uma seq��ncia vulcano-sedimentar associada a granitos sin a tardi tect�nicos estruturado segundo um trend N-S (Figura 1). Do ponto de vista geotect�nico, a origem do GBRI est� relacionada � evolu��o de uma bacia do tipo back arc gerada durante um evento colisional transamaz�nico (Silva, 1992; Silva et al, 2001). Ao sul do GBRI ocorre uma importante zona de cisalhamento de dire��o E-W denominada Faixa Weber (FW). A Mina de Fazenda Brasileiro (MFB) representa o principal dep�sito aur�fero da FW e do pr�prio greenstone, tendo produzido, desde o in�cio de suas atividades em 1984 at� a presente data, cerca de 65 t de ouro. O aprofundamento da mina, atualmente em cerca de 880 m, permite um estudo detalhado da geologia da FW em profundidade, pois o desenvolvimento de galerias exp�e longos trechos de rocha s� com estruturas que podem ser observadas e analisadas em detalhe de forma tridimensional. O presente trabalho constitui uma s�ntese dos resultados obtidos por meio de mapeamentos em escala de detalhe (1:100, 1:200) de galerias desenvolvidas ao longo de alguns dos mais importantes corpos mineralizados da MFB, �denominados C-24, na regi�o do Corpo C-Quartzo, e C-56.
A FAIXA WEBER Discordante da estrutura��o geral do GBRI, a Faixa Weber apresenta um trend E-W com inflex�o na sua por��o oeste, na regi�o conhecida como Pau-a-pique (Figura 2). A estratigrafia da FW � subdividida em quatro grupos principais: (1) a Seq��ncia Riacho do Inc� compreende um espesso pacote de metabasaltos, conhecidos no �mbito da mina como CCX (carbonato-clorita xisto), intercalado com estreitas lentes de metapelitos carbonosos; (2) a Seq��ncia Fazenda Brasileiro cont�m as principais mineraliza��es da FW. � constitu�da por uma faixa de espessura vari�vel de um clorita-sericita-carbonato xisto (CAX) e lentes de metagabros (MGB). Esta faixa recebe o nome, na de �Pacote Intermedi�rio� pois est� posicionada entre os dois horizontes de clorita xisto (CLX), principal rocha hospedeira da mineraliza��o da FW. No topo desta seq��ncia ocorre um horizonte estreito e cont�nuo de grafita xisto (GRX); (3) a Seq��ncia Canto compreende metapelitos e rochas pirocl�sticas, localmente mineralizados, al�m de n�veis e intrus�es de rochas vulc�nicas f�lsicas; (4) a Seq��ncia Ab�bora � composta basicamente por metabasaltos intercalados com metapelitos.
Figura 1. Mapa geol�gico do Greenstone Belt do Rio Itapicuru com a localiza��o dos principais dep�sitos aur�feros: Fazenda Brasileiro (FB), Fazenda Canto (FC), Fazenda Maria Preta (FMP), Mari (MR) e Ambr�sio (AMB) (Xavier & Coelho, 2000).
Geometria e Cinem�tica
da Deforma��o Paleopro-teroz�ica
Figura 3. Se��o longitudinal da Faixa Weber, com a localiza��o do Corpo C da Mina Fazenda Brasileiro. Em destaque, os corpos C-Quartzo e C-56.
A an�lise estrutural mostra uma evolu��o das fases de deforma��o com mudan�a de um regime d�ctil para um regime r�ptil durante o Paleoproteroz�ico. Durante a fase D1 foi gerada a folia��o principal S1 identificada facilmente nos metapelitos ou como uma forte xistosidade nos metabasaltos da Seq��ncia Fazenda Brasileiro. Durante esta fase desenvolveu-se tamb�m uma linea��o de estiramento (L1), a qual apresenta suaves caimentos tanto para E quanto para W. A fase D2 foi respons�vel pelo dobramento da folia��o S1. As dobras desta fase s�o abertas com eixos subhorizontais e simetria em �S� olhando para leste (Figura 4). A guirlanda sobre os p�los da folia��o indica que o eixo principal L2, apresenta atitude de baixo caimento para WSW (260/10) (Figura 5), sendo subparalelo a linea��o L1. Durante D3, ocorreu a gera��o de uma linea��o de crenula��o L3 down dip com planos axiais aproximadamente perpendiculares a S1. Esta fase afeta todas as estruturas anteriores especialmente L1 e os eixos L2, os quais, devido � crenula��o, passaram a apresentar caimentos suaves ora para E, ora para W.
S1 P.A. Eixo N S
Figura 4. Dobra D2 afetando a folia��o S1.
Figura 5. Guirlanda tra�ada sobre os p�los da folia��o S1. N = 446 medidas. Curvas de densidade em 1, 2, 4, 6, 8 e 10%. Proje��o equi-�rea, hemisf�rio inferior.
As falhas transcorrentes s�o em geral de alto �ngulo a subverticais com estrias subhorizontais (Figura 6a). Localmente apresentam-se com padr�o anastomosado ou preenchidas por brechas. As falhas de empurr�o s�o bastante raras, sendo conhecidas at� hoje poucas regi�es em toda a mina, onde estas estruturas afloram. Apesar de raras s�o bastante importantes, pois exercem influ�ncia no controle estrutural e da mineraliza��o de alguns corpos (Moraes et al, 2002; Moraes, 2004). Estas estruturas apresentam superf�cie sinuosa com mergulhos para NW na regi�o do C-Quartzo e para S no C-56, sendo subparalelas a folia��o. Em ambos os casos as estrias e ressaltos indicam movimento de topo para leste (Figuras 6b e 7). Analisando as falhas da fase D4 pelo m�todo de Turner (1953), observa-se que o eixo de compress�o principal σ1 apresenta dire��o NW-SE para as falhas transcorrentes e ENE-WSW para as falhas de empurr�o (Fig. 8).
Figura 6. Proje��o de Angelier para as atitudes das falhas transcorrentes (a) e de empurr�o (b) na regi�o do Corpo C da MFB.
E W
Figura 7. Superf�cie negativa do plano da falha de empurr�o com estrias e ressaltos indicando movimento de topo para leste.
Figura 8. Compara��o entre a dire��o do eixo σ1 durante o in�cio da fase D4 (a) e ao final da mesma fase (b), na gera��o das falhas transcorrentes e de empurr�o, respectivamente.
A geometria das estruturas geradas em D1, D2 e D3 tamb�m sugerem a mesma varia��o na orienta��o do eixo σ1, com dire��o NW-SE em D1 e D2 e pr�ximas a E-W para D3. Este conjunto de dados indica que houve pouca varia��o na orienta��o do σ1 durante o Paleoproteroz�ico. Desta forma, todas as quatro fases teriam sido geradas durante um evento de deforma��o de car�ter progressivo, relacionada a n�veis crustais sucessivamente mais rasos.
CONSIDERA��ES FINAIS Os dados apresentados neste trabalho permitem acrescentar ao perfil t�pico da Faixa Weber dois detalhes sut�s, por�m muito importantes (Figura 9). O primeiro refere-se ao dobramento da fase D2, claramente registrado em escala de galeria (Figura 4) e cujo padr�o se reflete ao longo da FW em profundidade, pelo menos na regi�o do Corpo C da MFB. O segundo � a presen�a das falhas de empurr�o (D4) que cortam a camada de CLX. A interse��o do plano de falha com os planos da folia��o S1 gerou uma zona linear com caimento para W, ao longo da qual, ap�s a passagem de um fluido rico em ouro, originou-se um grande corpo mineralizado (Moraes, 2004).
O posicionamento do corpo mineralizado definido pelo modelo acima coincide justamente com o flanco mais curto da dobra D2 (Figura 10). Esta regi�o supostamente corresponderia a uma zona de distens�o, tamb�m favor�vel, ap�s a passagem de fluidos, � gera��o de uma zona mineralizada. Assim sendo, a origem de alguns dos grandes corpos de min�rio na FW pode ser ainda um pouco mais complexa, estando relacionada � presen�a de falhas de empurr�o, zonas de distens�o geradas a partir de dobramentos D2, ou ainda � combina��o dos dois fatores. De qualquer forma, as duas estruturas acima descritas s�o extremamente importantes no contexto da mina e podem ser utilizadas como guias prospectivos na descoberta de novos corpos de min�rio
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M. 1998. General
features of the gold deposits in the Rio Itapicuru Greenstone Belt
(RIGB, NE Brazil), discussion of the origin, timming and tectonic
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Itapicuru, Bahia. Disserta��o de Mestrado, Universidade do Estado
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Brasileiro, Greenstone Belt do Rio ltapicuru,Bahia ADIMB/DNPM/FINEP/CVRD/UFBA,
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