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ST7 - 07


Evolução Estrutural da Faixa Weber em profundidade na região do Corpo C da Mina Fazenda Brasileiro, porção sul do Greenstone Belt  do Rio Itapicuru, BAHIA

 

Moraes, I.O.1, Valeriano C.M.2 e Assis C.M.1

 

  1. Mineração Fazenda Brasileiro (MFB)/Yamana Gold Inc.- israelmoraes@yamana.com.br, mauricioassis@yamana.com.br
  2. TEKTOS, Grupo de Pesquisas em Geotectônica, Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) - cmval@uerj.br

 

 

ABSTRACT
The Rio Itapicuru Greenstone Belt is placed at the northeast portion of the São Francisco Craton, in the State of Bahia. This paleoproterozoic terrain contains important gold deposits, which are mainly associated with shear zones filled by quartz veins. The Fazenda Brasileiro Mine is the main gold deposit of the region, controlled by an important shear zone called the Weber Belt, which is located in the southern portion of greenstone. Detailed structural surveys in the mine area, based mainly on the underground geological mapping, has demonstrated the existence of at least five deformation phases during the structural evolution of the Weber Belt. Analysis of the structural data has shown a progressive deformation related to successively shallow crustal levels during the Paleoproterozoic. In this event important structures had been generated, as for example D2 folds and D4 thrust faults, which control the mineralization of some orebodies.

 

Palavras-chave: Faixa Weber, greenstone belt, evolução estrutural, ouro


 

INTRODUÇÃO

O Greenstone Belt do Rio Itapicuru (GBRI) localiza-se na porção nordeste do Craton do São Francisco, nordeste do Estado da Bahia. Trata-se de um terreno paleoproterozóico, constituído por uma seqüência vulcano-sedimentar associada a granitos sin a tardi tectônicos estruturado segundo um trend N-S (Figura 1). Do ponto de vista geotectônico, a origem do GBRI está relacionada à evolução de uma bacia do tipo back arc gerada durante um evento colisional transamazônico (Silva, 1992; Silva et al, 2001).

Ao sul do GBRI ocorre uma importante zona de cisalhamento de direção E-W denominada Faixa Weber (FW). A Mina de Fazenda Brasileiro (MFB) representa o principal depósito aurífero da FW e do próprio greenstone, tendo produzido, desde o início de suas atividades em 1984 até a presente data, cerca de 65 t de ouro.

O aprofundamento da mina, atualmente em cerca de 880 m, permite um estudo detalhado da geologia da FW em profundidade, pois o desenvolvimento de galerias expõe longos trechos de rocha sã com estruturas que podem ser observadas e analisadas em detalhe de forma tridimensional. O presente trabalho constitui uma síntese dos resultados obtidos por meio de mapeamentos em escala de detalhe (1:100, 1:200) de galerias desenvolvidas ao longo de alguns dos mais importantes corpos mineralizados da MFB,  denominados C-24, na região do Corpo C-Quartzo, e C-56.

 

A FAIXA WEBER

Discordante da estruturação geral do GBRI, a Faixa Weber apresenta um trend E-W com inflexão na sua porção oeste, na região conhecida como Pau-a-pique (Figura 2). A estratigrafia da FW é subdividida em quatro grupos principais: (1) a Seqüência Riacho do Incó compreende um espesso pacote de metabasaltos, conhecidos no âmbito da mina como CCX (carbonato-clorita xisto), intercalado com estreitas lentes de metapelitos carbonosos; (2) a Seqüência Fazenda Brasileiro contém as principais mineralizações da FW. É constituída por uma faixa de espessura variável de um clorita-sericita-carbonato xisto (CAX) e lentes de metagabros (MGB). Esta faixa recebe o nome, na de “Pacote Intermediário” pois está posicionada entre os dois horizontes de clorita xisto (CLX), principal rocha hospedeira da mineralização da FW. No topo desta seqüência ocorre um horizonte estreito e contínuo de grafita xisto (GRX); (3) a Seqüência Canto compreende metapelitos e rochas piroclásticas, localmente mineralizados, além de níveis e intrusões de rochas vulcânicas félsicas; (4) a Seqüência Abóbora é composta basicamente por metabasaltos intercalados com metapelitos.

 

Figura 1. Mapa geológico do Greenstone Belt do Rio Itapicuru com a localização dos principais depósitos auríferos: Fazenda Brasileiro (FB), Fazenda Canto (FC), Fazenda Maria Preta (FMP), Mari (MR) e Ambrósio (AMB) (Xavier & Coelho, 2000).

 


Figura 2. Mapa geológico simplificado da porção sul do GBRI (Alves da Silva et al, 1998).

 

Geometria e Cinemática da Deformação Paleopro-terozóica
Com base nos dados estruturais coletados durante o mapeamento de galerias, foram identificadas na região do Corpo C da MFB (Figura 3), cinco fases de deformação. Destas, quatro se desenvolveram durante os esforços de natureza compressiva sob a qual estava submetido todo o GBRI durante o Paleoproterozóico. A última fase representa o registro de uma tectônica mais recente de idade mesozóica.

 

Figura 3. Seção longitudinal da Faixa Weber, com a localização do Corpo C da Mina Fazenda Brasileiro. Em destaque, os corpos C-Quartzo e C-56.

 

A análise estrutural mostra uma evolução das fases de deformação com mudança de um regime dúctil para um regime rúptil durante o Paleoproterozóico. Durante a fase D1 foi gerada a foliação principal S1 identificada facilmente nos metapelitos ou como uma forte xistosidade nos metabasaltos da Seqüência Fazenda Brasileiro. Durante esta fase desenvolveu-se também uma lineação de estiramento (L1), a qual apresenta suaves caimentos tanto para E quanto para W. A fase D2 foi responsável pelo dobramento da foliação S1. As dobras desta fase são abertas com eixos subhorizontais e simetria em “S” olhando para leste (Figura 4). A guirlanda sobre os pólos da foliação indica que o eixo principal L2, apresenta atitude de baixo caimento para WSW (260/10) (Figura 5), sendo subparalelo a lineação L1. Durante D3, ocorreu a geração de uma lineação de crenulação L3 down dip com planos axiais aproximadamente perpendiculares a S1. Esta fase afeta todas as estruturas anteriores especialmente L1 e os eixos L2, os quais, devido à crenulação, passaram a apresentar caimentos suaves ora para E, ora para W.

 

S1

 

P.A.

 

Eixo

 

N

 

S

 

 

Figura 4. Dobra D2 afetando a foliação S1.

 

Figura 5. Guirlanda traçada sobre os pólos da foliação S1. N = 446 medidas. Curvas de densidade em 1, 2, 4, 6, 8 e 10%. Projeção equi-área, hemisfério inferior.

 

As falhas transcorrentes são em geral de alto ângulo a subverticais com estrias subhorizontais (Figura 6a). Localmente apresentam-se com padrão anastomosado ou preenchidas por brechas. As falhas de empurrão são bastante raras, sendo conhecidas até hoje poucas regiões em toda a mina, onde estas estruturas afloram. Apesar de raras são bastante importantes, pois exercem influência no controle estrutural e da mineralização de alguns corpos (Moraes et al, 2002; Moraes, 2004). Estas estruturas apresentam superfície sinuosa com mergulhos para NW na região do C-Quartzo e para S no C-56, sendo subparalelas a foliação. Em ambos os casos as estrias e ressaltos indicam movimento de topo para leste (Figuras 6b e 7).

Analisando as falhas da fase D4 pelo método de Turner (1953), observa-se que o eixo de compressão principal σ1 apresenta direção NW-SE para as falhas transcorrentes e ENE-WSW para as falhas de empurrão (Fig. 8).

 

 

Figura 6. Projeção de Angelier para as atitudes das falhas transcorrentes (a) e de empurrão (b) na região do Corpo C da MFB.

 

E

 

W

 

 

Figura 7. Superfície negativa do plano da falha de empurrão com estrias e ressaltos indicando movimento de topo para leste.

 

 

Figura 8. Comparação entre a direção do eixo σ1 durante o início da fase D4 (a) e ao final da mesma fase (b), na geração das falhas transcorrentes e de empurrão, respectivamente.

 

A geometria das estruturas geradas em D1, D2 e D3 também sugerem a mesma variação na orientação do eixo σ1, com direção NW-SE em D1 e D2 e próximas a E-W para D3. Este conjunto de dados indica que houve pouca variação na orientação do σ1 durante o Paleoproterozóico. Desta forma, todas as quatro fases teriam sido geradas durante um evento de deformação de caráter progressivo, relacionada a níveis crustais sucessivamente mais rasos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados apresentados neste trabalho permitem acrescentar ao perfil típico da Faixa Weber dois detalhes sutís, porém muito importantes (Figura 9). O primeiro refere-se ao dobramento da fase D2, claramente registrado em escala de galeria (Figura 4) e cujo padrão se reflete ao longo da FW em profundidade, pelo menos na região do Corpo C da MFB. O segundo é a presença das falhas de empurrão (D4) que cortam a camada de CLX. A interseção do plano de falha com os planos da foliação S1 gerou uma zona linear com caimento para W, ao longo da qual, após a passagem de um fluido rico em ouro, originou-se um grande corpo mineralizado (Moraes, 2004).

 


Figura 9. Perfil esquemático da Faixa Weber modificado de CVRD (Relatório Interno).

 

O posicionamento do corpo mineralizado definido pelo modelo acima coincide justamente com o flanco mais curto da dobra D2 (Figura 10). Esta região supostamente corresponderia a uma zona de distensão, também favorável, após a passagem de fluidos, à geração de uma zona mineralizada. Assim sendo, a origem de alguns dos grandes corpos de minério na FW pode ser ainda um pouco mais complexa, estando relacionada à presença de falhas de empurrão, zonas de distensão geradas a partir de dobramentos D2, ou ainda à combinação dos dois fatores. De qualquer forma, as duas estruturas acima descritas são extremamente importantes no contexto da mina e podem ser utilizadas como guias prospectivos na descoberta de novos corpos de minério

 


Figura 10. Detalhe indicado na Fig. 9 mostrando o posicionamento da zona mineralizada na região do Corpo C-Quartzo.

 

REFERÊNCIAS

Alves da Silva, F.C., Chauvet, A., Faure, M. 1998. General features of the gold deposits in the Rio Itapicuru Greenstone Belt (RIGB, NE Brazil), discussion of the origin, timming and tectonic model Rev. Bras. Geoc., v. 28:377-390.

Turner, F.J. 1953. Nature and dynamic interpretation of deformation lamellae in calcite of three marbles. Am. J. Sci, v. 251:276-298.

Moraes, I.O., Valeriano, C.M., Assis, C.M. 2002. Controle Estrutural da Mineralização de Au no Corpo C-Quartzo da Mina Fazenda Brasileiro, Porção Sul do Greenstone Belt do Rio Itapicuru, Bahia. Anais do XLI Congresso Brasileiro de Geologia, p. 216.

Moraes, I.O. 2004. Controle Estrutural das Mineralizações Auríferas dos Corpos C-Quartzo, C-57 e C-61 da Mina Fazenda Brasileiro, Porção Sul do Greenstone Belt do Rio Itapicuru, Bahia. Dissertação de Mestrado, Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ, 83 p.

Silva, M.G. 1992. O Greenstone Belt do Rio Itapicuru: Uma bacia do tipo back-arc fóssil. Rev. Bras. Geoc. v. 22:157-166.

Silva, M.G., Coelho, C.E.S..; Teixeira, J.B.G.; Silva, R.A.; Orlandi, P.H. 2001. Caracterização de Depósitos Auríferos de Distritos Mineiros Brasileiros - Alvo Mina de Fazenda Brasileiro, Greenstone Belt do Rio ltapicuru,Bahia ADIMB/DNPM/FINEP/CVRD/UFBA, 220 p.

Xavier, R.P., Coelho, C.E.S. 2000. Fluid regimes related to the formation of lode-gold Deposits in the Rio Itapicuru Greenstone Belt, Bahia: A fluid inclusion review. Rev. Bras. Geoc., v. 30:311-314.