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ST2 - 03


CONTRIBUIÇÃO DA SÍSMICA DE REFLEXÃO NA DETERMINAÇÃO
DO LIMITE OESTE DO CRÁTON DO SÃO FRANCISCO

 

 

Romeiro Silva, P.C. & Zalán, P.V.

 

Petrobras/E&P/E&P-EXP/GPE/NNE, Av. Chile 65/1302, Rio de Janeiro – RJ.

 romer@petrobras.com.br, zalan@petrobras.com.br

 

ABSTRACT

 

The interpretation of two seismic sections of regional dimensions shot by Petrobras in the 90’s show stratigraphic and structural features that bear important implications for the geological evolution and the physical extent of the São Francisco Craton. It is possible to physically correlate without interruptions, from the Espinhaço foldbelt in the east to the Brasília foldbelt in the west, the Espinhaço Sgp. with the Canastra Gp (rift environment), as well as the Macaúbas Gp. with the Paranoá Gp. (intracratonic to platform depositional environment). The Bambui Gp. does not display thickening patterns and facies variations from east to west typical of a foreland basin, instead, it displays the geometry of another intracratonic/platform sequence, affected by thin-skinned tectonics during the Brasiliano Orogeny. The western limit of the São Francisco Craton should be extended at least to the eastern flank of the Cristalina Dome, uplifted by thick-skinned tectonics.

 

Palavras-chave: Bacia do São Francisco, seções sísmicas

 


INTRODUÇÃO

Dados de dois perfis sísmicos de reflexão de dimensões regionais adquiridos pela Petrobras na década de noventa permitem a correlação entre as Faixas de Dobramentos do Espinhaço e de Brasília. Um deles, com 400 km de extensão, une a Serra da Água Fria (Espinhaço) ao Domo de Cristalina (Brasília). O segundo, sub-paralelo e afastado cerca de 50 km ao Sul, estende-se por 350 km e também permite a correlação entre ambas as faixas, confirmando tanto a presença quanto as deformações das mega-seqüências supra-cratônicas. Em ambos os perfis, as assinaturas sísmicas das mega-seqüências sugerem que o limite ocidental do Cráton do São Francisco deve ser posicionado, no mínimo, junto ao flanco leste do Domo de Cristalina, bem mais a oeste do limite classicamente considerado. Além de reposicionar o limite do Cráton, as seções sísmicas permitem correlacionar fisicamente unidades litoestratigráficas presentes em ambas as faixas e conhecidas por nomes diferentes.

 

INTERPRETAÇÃO DOS PERFIS SÍSMICOS

     O poço utilizado para a amarração estratigráfica das seções sísmicas foi o 1-RF-1-MG que, após atravessar toda a seqüência do Gp. Bambuí, alcançou, a 1775 m de profundidade, um nível delgado (6 m) de conglomerado e um pacote com mais de 60 m de diamictitos cinza-esverdeados. A amarração pelos perfis sônico e check shot corridos no poço permitiram correlacionar o topo dos diamictitos a uma discordância sismo-estratigráfica e ficou evidente que o poço por pouco não alcançou uma outra importante discordância, poucas dezenas de metros abaixo de sua profundidade final (Fig. 1, localização na Fig. 2).

     O rastreamento sísmico de ambas as discordâncias até a Serra da Água Fria permitiu correlacionar os diamictitos do poço 1-RF-1-MG aos diamictitos glaciogênicos da Fm. Jequitaí aflorantes, que segundo Martins-Neto et al. (1999) pertencem à base do Gp. Macaúbas. Por correlação com os afloramentos nas Serras da Água Fria e do Cabral, a discordância sísmica inferior, não alcançada pelo poço, deve corresponder ao topo do Sgp. Espinhaço. Particularmente ali, na extremidade leste do perfil, pode-se observar que todas as unidades (Espinhaço, Macaúbas e Bambuí) foram afetadas pelo tectonismo Brasiliano, que nesta área é do tipo thick-skinned (falhas reversas de alto ângulo, incluindo o embasamento) (Fig. 1).

     Uma importante contribuição trazida pela sísmica é a indicação da continuidade física do Spg. Espinhaço, de Leste para Oeste, até a Faixa Brasília, com falhamentos normais e espessamentos abruptos notáveis, típicos de ambiente rifte, e injeções vulcânicas nele inseridas. Sua correlação temporal e física é sugerida com o Gp. Canastra a Oeste (Fig. 1).


 

 

 


 

 


     Uma outra contribuição dos perfis sísmicos consiste na individualização do Gp. Macaúbas/Fm. Jequitaí, a Leste, como uma importante seqüência deposicional de primeira ordem que também se espessa para Oeste sem apresentar, entretanto, características de rifte. A forte continuidade e paralelismo de seus refletores bem como seu espessamento gradual, sem falhamentos associados, até a Faixa Brasília, indicam uma sedimentação plataformal intracratônica. Sua correlação temporal e física é sugerida com o Gp. Paranoá/Fm. Jequitaí, aflorantes no Domo de Cristalina, a Oeste (Figs. 1, 2).

     Para Oeste do poço 1-RF-1-MG, em direção à Faixa de Dobramentos Brasília, a continuidade sismo-estratigráfica permite interpretar um amplo arco cratônico central, a partir do qual ambas as mega-seqüências (Macaúbas/Paranoá e Espinhaço/ Canastra) se espessam para Oeste, até o flanco oriental do Domo de Cristalina, onde estão fortemente soerguidas pelo evento Brasiliano, através de falhas reversas de thick-skinned tectonics (Fig. 1). Os perfis sísmicos indicam cerca de 9000 m de profundidade para a provável base do Sgp. Espinhaço, neste ponto.

     As seções sísmicas apontam também, de maneira nítida, que as deformações do Gp. Bambuí são eminentemente epidérmicas (thin-skinned tectonics), ou seja uma lâmina alóctone delgada (inferior a 2000 m de espessura), constituída de intensos dobramentos e cavalgamentos, encurtada diferencialmente em relação ao seu substrato por meio de zona de descolamento basal nucleada muito próximo da discordância que a separa da mega-seqüência subjacente (Gp. Macaúbas/Gp. Paranoá) (Figs. 1, 2). Não há espessamento significativo desta unidade neoproterozóica de Leste para Oeste, nem variações faciológicas nítidas (sísmicas ou conhecidas em campo), que permitam considerar o Gp. Bambuí como uma seqüência de antepaís, depositada concomitantemente com a deformação do Ciclo Orogênico Brasiliano e sob sua influência. Muito pelo contrário, os dobramentos e cavalgamentos epidérmicos que afetam o Gp. Bambuí, com vergência de Oeste para Leste, mostram a sismofácies típica desta unidade em meio à intensa deformação. Conclui-se que a Orogenia Brasiliano afetou uma seqüência já sedimentada.

     As correlações e geometrias deformacionais descritas acima indicam que o Cráton do São Francisco deve se estender até o flanco leste do Domo de Cristalina; e não só até o limite oriental do alóctone epidérmico da Faixa Brasília (Falha de São Domingos). Abaixo de Cristalina, é possível se notar ainda o embasamento cristalino, contínuo desde a Faixa Espinhaço, coberto por uma mega-sequência rifte e duas mega-sequências plataformais intracratônicas, vergado sob as falhas reversas da deformação do Brasiliano (Fig. 1).

     Finalmente, os dados sísmicos também permitem visualizar um evento tectônico compressivo posterior à deposição da mega-seqüência Macaúbas/Paranoá e anterior ao Gp. Bambuí, conseqüentemente, bem mais velho que o tectonismo Brasiliano (Fig. 3). A discordância angular entre estas unidades, acarretada pelo dobramento mais antigo é nítida. Sua intensidade parece ser menor do que a do Brasiliano e sua direção de esforços parece ser diferente.  Tal informação certamente irá reavivar as discussões em torno da quantidade e da idade de eventos deformacionais atuantes sobre o Cráton do São Francisco.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Martins-Neto, M.A., Gomes, N.S., Hercos, C.M., Reis, L.A., 1999, Fácies glacio-continentais (outwash plain) na megassequência Macaúbas, norte da Serra da Água Fria (MG), Rev. Bras. Geoc., 29(2):281-292.