MAPA TECTÔNICO DO BRASIL NA ESCALA 1:5.000.000, METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO EM AMBIENTE SIG, PRIMEIROS RESULTADOS: O EXEMPLO DA PROVÍNCIA SÃO FRANCISCO
Delgado, I.M.D. & Silveira Filho, N.C.
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, Av. Ulysses Guimarães, 2862, CAB, 41213-000, Salvador - BA. inácio@sa.cprm.gov.br, nelsoncustodio@sa.cprm.gov.br
ABSTRACT
The Tectonic Map of Brazil Project in 1:5.000.000 scale is being prepared with a methodology that comprises the handling, analysis and interpretation of geologic, geophysic (raster imagery), structural and geocronologic data contained in the digital files (shapefiles) of the GIS do Brasil Project. This has allowed the addition of new data to the geology related polygons, as those related to tectonic entities, tectonic settings and their major assemblages of petrotectonic lithofacies, allowing the generation of several tectonic maps, through the stressing of diverse tectonic features, as exemplified in the São Francisco Province.
Palavras-chave: Tectônica, mapa tectônico, Província São Francisco, banco de dados
O Projeto GIS do Brasil, concebido pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), foi desenvolvido em duas etapas. A primeira compreendeu a elaboração dos Mapas Geológico, Tectônico e de Recursos Minerais do Brasil, na escala 1:2.500.000 em ambiente GIS (Geographical Information System), cujo produto, um conjunto de 4 CD-ROMs, foi divulgado em 2001. O livro, intitulado “Geologia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil”, escrito em 2002 e somente editado em 2004, complementou os produtos dessa primeira etapa. A segunda etapa compreendeu a elaboração da Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo, também em ambiente GIS, cujo produto, 46 folhas geológicas contidas em 41 CD-ROMs, foi concluído no primeiro trimestre de 2004. Todo esse sistema de dados e informações geológicas georreferenciadas faz parte do Geobank, um banco de dados relacional construído na plataforma ORACLE. Os arquivos digitais dos projetos do GIS Brasil são apresentados e distribuídos no formato shapefile (ESRI), associados a tabelas tipo < dbf >, geradas a partir do Geobank. O Projeto Mapa Tectônico do Brasil, escala 1:5.000.000, integrante do Plano Anual de Trabalho do Serviço Geológico do Brasil (PAT 2005) está sendo construído a partir de uma metodologia que envolve o manuseio, análise e interpretação de dados e informações geológicas, geofísicas (imagens raster), estruturais e geocronológicas contidos nos arquivos digitais (shapefiles) dos produtos do Projeto GIS do Brasil, o que tem permitido a adição de informações novas aos polígonos da geologia como as relacionadas a entidades tectônicas, ambientes tectônicos e suas principais associações de litofacies petrotectônicas. A forma como o banco de dados e informações tectônicas (BDI_T) está sendo construído, a partir de polígonos e atributos das Unidades Litoestratigráficas cadastradas no Geobank (tabelas do tipo <dbf>), permitirá a geração de vários mapas tectônicos, através de realce de feições tectônicas diversas (ambiente, unidades litotectônicas, idades de formação ou de deformação, etc.). Além disso, estes mapas poderão também ser produzidos por entidades tectônicas, tais como, províncias, orógenos, faixas, terrenos, bacias, etc. Nos três primeiros campos do BDI_ T, constam dados sobre as unidades litoestratigráficas e suas litofácies dominantes. Os dois campos seguintes atributam informações sobre os ambientes tectônicos e suas litofácies petrotectônicas. Os ambientes tectônicos são enunciados sem muita especificação de modo a permitir certa flexibilidade às interpretações. Foi adotada, com algumas modificações, a proposta da Comissão do IUGS do Mapa Tectônico da América do Sul em construção, liderada pelos Drs. Umberto Cordani (Plataforma Sul Americana) e Victor Ramos (Região Andina). Os ambientes tectônicos estão caracterizados por litofácies petrotectônicas que são interpretadas a partir das unidades litoestratigráficas. Isto possibilita uma subdivisão dos ambientes tectônicos no caso de se desejar mapas com maior grau de detalhamento. Exemplificando, uma Sequência Pré-orogênica de Margem Passiva, ao longo de sua evolução, pode ser dominada por uma das seguintes litofácies: siliciclástica (não turbidítica), turbidito, carbonato, itabirito ou diamictito. Considerando a possibilidade de mudanças na interpretação dos dados, as bibliotecas das litofácies petrotectônicas e de seus ambientes tectônicos poderão ser aperfeiçoados de acordo com as visões do usuário (Tab. 1A, B). Os outros campos de dados que foram incorporados ao BDI_T para dar suporte às interpretações tectônicas, são os seguintes: (i) a idade de formação ou cristalização das associações de litofácies, explicitada em eon, era ou período; (ii) o último evento/ciclo orogenético que afetou essas litofácies, conforme intervalos de tempo convencionados para os terrenos pré-cambianos e fanerozóicos (Tab. 2); (iii) a idade de cristalização obtida por um dos métodos geocronológicos; (iv) a idade do metamorfismo; (v) a idade modelo TDM e as variações do εNd.
Tabela 1A. Ambientes tectônicos e suas litofacies petrotectônicas dominantes.
Tabela 1B. Ambientes tectônicos e suas litofácies petrotectônicas dominantes.
O
BDI_T é então complementado com informações sobre entidades tectônicas,
classificadas em três níveis hierárquicos: (i) Entidades tectônicas
de maior ordem, compreendendo as províncias (São Francisco, Borborema,
Tocantins, Mantiqueira e Cráton Amazonas), as bacias sedimentares
fanerozóicas e as coberturas superficiais; (ii) Entidades tectônicas
intermediárias que representam as subdivisões
< 100Ma Ciclo Andino 100 – 200 Ciclo pré-Andino 200 – 350 Ciclo Herciniano 350 – 540 Paleozóico Inferior 540 – 700 Neoproterozóico (NP II) 700 – 1000 Neoproterozóico (NP I) 1000 – 1600 Mesoproterozóico (MP) 1600 – 1850 Paleoproterozóico (PP IV) 1850 – 2000 Paleoproterozóico (PP III) 2000 – 2500 Paleoproterozóico ( PP II) 1600 – 2500 Paleoproterozóico (PP) 2500 – 2800 Neoarqueano (NA) > 2800Ma Meso/Paleoarqueano (AR)
Tabela 2. Intervalos de Tempo dos CiclosTectono-Geológicos.
A tabela 3 ilustra o relacionamento das entidades de diversos níveis hierárquicos na Província São Francisco.
Cobertura cratônica NP - Bacias: São Francisco-Bambui, Salitre-Una, Rio Pardo, Estância e Aulacógeno Santo Onofre Cobertura cratônica MP – Chapada Diamantina Cobertura cratônica PMP - Rifte Espinhaço – Fases Rifte e Sinéclise Inliers do embasamento AP - Correntina, Januária, São Domingos e Bloco Gouveia Embasamento AR retrabalhado no NP - Terrenos Guanhães, Itapetinga e Cristalândia do Piauí Embasamento AR retrabalhado no PP - Bloco Serrinha Embasamento AR - Blocos Sobradinho, Gavião-Paramirim, Guanambi, Porteirinha e Belo Horizonte Orógeno transpressional PP3 - Orógeno Jacobina-Contendas Orógeno colisional PP2 - Orógeno Mineiro: Domínio Margem Passiva Minas, Terrenos Piedade e Juiz de Fora; Orógeno Leste da Bahia: Faixa Saúde, Greenstone Belt Rio Itapicuru; Domínios Costeiro-Atlântico e Salvador-Esplanada Orógeno acrescionário AR retrabalhado no PP - Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá: Domínios Salvador-Curaçá, Salvador-Itabuna e Bloco Jequié
Tabela 3. Relacionamento entre as EntidadesTectônicas da Província São Francisco.
Após o término desse trabalho, previsto para setembro de 2005, é nossa intenção que os dados e informações contidos no BDI_T que darão origem ao Mapa Tectônico do Brasil, e, no caso específico, os mapas da Província São Francisco ora mostrados neste Simpósio, sejam analisados e avaliados por especialistas de diversas regiões do País, juntamente com a coordenação do Projeto.
Tabela 1A. Ambientes tectônicos e suas litofacies petrotectônicas dominantes. |